sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

AVALIAÇÃO DA PERDA DE SOLO POR EROSÃO HÍDRICA NO CONCELHO DE TAROUCA (PORTUGAL) E SUA INFLUÊNCIA NA MORFOGÉNESE ATUAL

Resumo
A determinação de áreas suscetíveis à erosão hídrica é fundamental na tomada de decisões que envolvam atividades relacionadas com o uso do solo, nomeadamente atividades agrícolas. Sendo o Concelho de Tarouca (área de estudo) uma área com elevada dependência agrícola é fundamental a preservação do solo, evidenciando-se aqui, o reconhecimento das áreas mais suscetíveis à erosão hídrica. Neste sentido, estimou-se a perda de solo nesta área pela Equação Universal de Perda de Solo (EUPS) e avaliou-se o impacto destas perdas na morfogénese atual. Os resultados aqui obtidos permitiram aferir as áreas mais suscetíveis à erosão hídrica, destacando-se a influência de vários fatores, como o relevo, precipitação, o seu coberto e práticas desenvolvidas, na variação da distribuição da erosão hídrica.

Palavras-chave: Erosão hídrica, USLE, Morfogénese atual.


_____________
Assessment of Soil Loss by Water in the Tarouca County (Portugal) and Its Influence in Actual Morphogenesis

Abstract
The determination of susceptible areas to erosion by water is important in making decisions involving activities related to land use, in particular agricultural activities. Being the municipality of Tarouca (study area) an area with high dependence on agriculture is essential to the preservation of the soil, showing here, the recognition of areas more susceptible to erosion. In this sense, it was estimated the soil loss in this area by the Universal Soil Loss Equation (USLE) and assessed the impact of these losses on currently morphogenesis. The results obtained allowed to assess the area’s most susceptible to erosion, especially the influence of various factors, such as relief, precipitation, its covered and it practices developed, on the variation of distribution of water erosion.


Key-words: Erosion by Water, USLE, Actual Morphogenesis

sexta-feira, 11 de julho de 2014

domingo, 12 de janeiro de 2014

Influência das práticas agrícolas e da cobertura vegetal na variação da erosão hídrica do solo - Comparação entre a erosão hídrica observada e a erosão hídrica real estimada pela EUPS

Referência bibliográfica: 
Meneses, B.M. (2012) - Influência das práticas agrícolas e da cobertura vegetal na variação da erosão hídrica do solo - Comparação entre a erosão hídrica observada e a erosão hídrica real estimada pela EUPS. III Encontro de Sistemas de Informação Geográfica - Aplicação SIG em Recursos Agro-Florestais e Ambiente, IPCB, Castelo Branco, pp. 80-81.
 1Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Departamento de Geografia e Planeamento Regional, Lisboa. Portugal. santana.meneses@gmail.com

RESUMO
A cobertura vegetal do solo e as culturas que nele se praticam têm influência na variação espacial da perda de solo por erosão hídrica. Esta constatação obteve-se após a monitorização da erosão hídrica através de estacas graduadas colocadas estrategicamente em solos ocupados por olival, vinha, culturas de centeio e floresta em duas vertentes com diferentes exposições (NW e SE) na Freguesia de Gouviães (Concelho de Tarouca) no período entre 01/12/2010 e 30/05/2011. Estes dados compararam-se com os resultados obtidos pela Equação Universal da Perda de Solo (EUPS), aferindo-se assim a robustez deste modelo na estimativa da perda média anual de solo. Neste procedimento destaca-se o recurso aos Sistemas de Informação Geográfica (SIG) para a obtenção dos fatores que integram a EUPS e no respetivo cálculo da erosão hídrica real.
Através da monitorização pelas estacas observou-se que a erosão hídrica na vertente exposta a SE é superior (rebaixamento médio junto às estacas de 0,76cm) face à vertente exposta a NW (rebaixamento médio de 0,60cm), embora nesta última a precipitação média anual seja superior à da primeira, conforme os valores calculados pelo Modelo Numérico de Precipitação. Na vertente exposta a NW também se comparou os resultados da erosão em áreas de vinha (pouca cobertura vegetal) de acordo com a sua disposição (alinhamento da plantação das videiras) relativamente ao sentido de inclinação da vertente. Nestes locais observou-se maior erosão do solo na vinha plantada perpendicularmente ao sentido de inclinação da vertente face à vinha plantada paralelamente, resultados explicados pela disposição dos sulcos antrópicos feitos junto às videiras. Comparando os resultados das áreas agrícolas nas duas vertentes, isto é, com intervenção antrópica, com as áreas sem intervenção antrópica, ou seja, áreas ocupadas por matos e floresta (maior coberto vegetal), verifica-se que a erosão é superior nas primeiras (rebaixamento médio de 0,81cm) face às segundas (rebaixamento médio de 0,71cm). Com estas observações evidencia-se a influência das atividades agrícolas e a reduzida cobertura vegetal do solo no aumento da erosão hídrica nas áreas monitorizadas.
Pela comparação dos resultados da erosão hídrica observada junto às estacas, com os resultados estimados pela EUPS, verificou-se que na vertente exposta a NW os resultados variam no mesmo sentido, ou seja, quanto maior é o rebaixamento obtido junto a cada estaca maior é o valor da perda de solo obtido no modelo (valor do pixel onde se localiza a estaca) e vice-versa, enquanto na vertente exposta a SE, há uma variação contrária entre os dois tipos de dados. Os resultados obtidos através da EUPS traduzem o elevado peso fator topográfico na estimativa da perda média anual de solo e a pouca importância do fator cobertura vegetal e prática agrícola, visto que nas áreas de pinhal e mato o resultado foi elevado (2,66 e 0,16 ton.ha-1.ano-1, respetivamente) em relação ao que se observou no campo (0,58 e 0,83cm de rebaixamento, respetivamente) face às áreas cultivadas com centeio e olival (0,23 e 0,58 ton.ha-1.ano-1, respetivamente) onde os valores de rebaixamento observados foram de 0,91 e 0,70cm, respetivamente.

Palavras chave: SIG; Erosão hídrica; Ocupação do solo; Exposição de vertentes, Disposição de culturas ao longo de vertentes.

Risco de incêndio urbano nas Freguesias da Mina e Venteira do Concelho da Amadora

Referência bibliográfica:
Rocha, M.C. & Meneses, B.M. (2012) - Risco de incêndio urbano nas Freguesias da Mina e Venteira do Concelho da Amadora. III Encontro de Sistemas de Informação Geográfica - Aplicação SIG em Recursos Agro-Florestais e Ambiente, IPCB, Castelo Branco, pp. 52-53.


Mara C. Rocha1, Bruno M. Meneses2
1Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Departamento de Geografia e Planeamento Regional, Lisboa. Portugal.
2Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Departamento de Geografia e Planeamento Regional, Lisboa. Portugal. santana.meneses@gmail.com

RESUMO
Os incêndios urbanos têm sido um dos grandes flagelos que atingem a área urbana do Concelho da Amadora. Aqui, estes eventos são responsáveis por avultados prejuízos materiais (e.g. destruição de habitações, edifícios comerciais e industriais, entre outros), mas também pela perda de vidas humanas. Face a esta problemática, estudaram-se as duas freguesias deste Concelho mais fustigadas por este evento (Mina e Venteira), no período de 2000 a 2010, identificando-se as causas que mais influenciam o desencadeamento dos mesmos, considerando-se nesta avaliação diversas variáveis que constituem os elementos presentes no território e as características da população (e.g. estrutura etária).
Georreferenciou-se um total de 556 incêndios de acordo com a base de dados cedida pelos Bombeiros Voluntários da Amadora, constituindo estes a variável dependente (área do edifício afetado). Posteriormente esta informação foi cruzada com as variáveis independentes sob a forma matricial (material de construção, idade do edificado, número de pisos, tipo de combustível doméstico utilizado e total de população jovem e idosa presente), através da qual se calcularam as probabilidades condicionadas à ocorrência destes eventos e se obtiveram os respetivos valores Fuzzy Membership utilizados na avaliação da suscetibilidade à ocorrência dos incêndios a partir da Lógica Fuzzy. No resultado obtido, destacam-se as áreas ocupadas por núcleos degradados (Bairro de Santa Filomena), áreas onde predomina a utilização do gás de botija como combustível doméstico; áreas com habitações antigas (algumas delas em elevado estado de degradação) e áreas com muita população jovem.
Com os mapas temáticos da suscetibilidade à ocorrência de incêndios, da localização dos elementos expostos (população, habitações, equipamentos de emergência/socorro), das distâncias aos equipamentos estratégicos/vitais/sensíveis e, também, aos respetivos marcos e bocas-de-incêndio, obteve-se o mapa de risco de incêndio para as duas freguesias. Neste procedimento teve-se em conta as orientações estratégicas emanadas pela Proteção Civil, nomeadamente, os elementos vulneráveis a considerar. Esta avaliação foi feita de forma ponderada, onde os dois primeiros mapas temáticos representam 70% de importância total na tradução espacial do risco, devido à relevância destes na determinação das áreas onde poderão ocorrer os próximos incêndios e o impacto ou prejuízo causado pelos mesmos nos elementos expostos presentes; os restantes 30% atribuíram-se às restantes variáveis. As áreas que se destacam com risco de incêndio mais elevado correspondem ao Bairro de Santa Filomena e pequenos núcleos dos dois grandes aglomerados de edificado nas duas freguesias, devido aos elementos expostos presentes e por serem as áreas que apresentam elevada probabilidade de ocorrer incêndios futuramente.
Este tipo de avaliação revela-se importante na implementação de políticas preventivas, ao permitir a adoção de medidas que visem a minimização do impacto causado pelos incêndios, ou mesmo evitar que estes ocorram, mas também na elaboração de políticas reativas, permitindo aos agentes que atuam no terreno, nomeadamente os intervêm em cenários de socorro/emergência (Bombeiros, Proteção Civil e Forças de Segurança Pública) atuar eficazmente.

Palavras chave: Incêndios urbanos; Lógica Fuzzy; Suscetibilidade; Risco; SIG.

Avaliação da distribuição espacial de incêndios florestais no Concelho de Tarouca

Referência bibliográfica:
Meneses, B.M. & Sarmento, H. (2012) - Avaliação da distribuição espacial de incêndios florestais no Concelho de Tarouca. III Encontro de Sistemas de Informação Geográfica - Aplicação SIG em Recursos Agro-Florestais e Ambiente, IPCB, Castelo Branco, pp. 39-40.

Bruno M. Meneses1, Humberto J. Sarmento2
1Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Departamento de Geografia e Planeamento Regional, Lisboa. Portugal. santana.meneses@gmail.com
2Comandante dos Bombeiros Voluntários de Tarouca, Tarouca. Portugal.
  
RESUMO
A floresta no Concelho de Tarouca reduziu significativamente nos últimos anos devido aos múltiplos incêndios que aqui têm ocorrido. Segundo a Carta de Ocupação do Solo de 1990 (COS’90), a área florestal representava cerca de 59,04% da área total do Concelho, reduzida para 51,39% segundo os dados da CORINE Land Cover de 2006 (CLC’06). A redução da floresta deve-se em parte às atividades antrópicas aqui desenvolvidas (e.g. desflorestação, conversão de áreas florestais em agrícolas, etc.) mas sobretudo à ocorrência de incêndios, sendo estes eventos responsáveis por múltiplos impactos sociais e económicos, bem como ambientais. Entre Julho de 1983 a Outubro de 2011 ocorreram 2712 incêndios florestais neste Concelho (registos dos Bombeiros Voluntários de Tarouca) verificando-se que no Verão é quando estes eventos ocorrem com mais frequência (1994 eventos) por ser a estação que reúne todas as condições para que os incêndios se desencadeiem e também pela fácil propagação (e.g. elevada temperatura, muita vegetação seca, etc.). Na análise destes registos também se verificou que a maioria dos incêndios deflagra entre as 14:00 e as 16:00, período em que a insolação das vertentes é maior (temperatura mais elevada), um fator que proporciona a redução do teor de humidade e a fácil combustão da matéria seca.
A área onde tem ocorrido os incêndios foi cartografada pelos serviços municipais entre os anos de 1995 e 2011, possibilitando atualmente perceber quais as áreas onde é necessário intervir e também onde é fundamental aplicar medidas preventivas extraordinárias para a redução da ocorrência destes eventos. Esta informação depois de convertida de vetorial a matricial, sobrepôs-se por anos, obtendo-se as áreas mais fustigadas pelos incêndios no período anteriormente referido, destacando-se nesta análise toda a Serra de Santa Helena, em especial o setor a Norte, com áreas a registar a ocorrência de cinco incêndios. A redução da cobertura vegetal nesta área implica, sobretudo, a perda de solo por erosão hídrica, embora haja outros problemas, como por exemplo a deposição de matéria orgânica com implicações no desenvolvimento do perfil do solo.
A reconversão do uso e ocupação do solo é bastante significativa nas áreas mais a Norte deste Concelho, locais onde se observou o avanço da vegetação natural (arbustos) pelo consecutivo abandono de áreas agrícolas. Esta observação reflete-se no cálculo de índices de vegetação normalizada (NDVI) obtidos a partir das imagens do Satélite Landsat 5TM, onde é possível perceber as dinâmicas do território nas últimas três décadas, nomeadamente na variação espacial da cobertura vegetal. Esta informação é essencial na determinação espacial de áreas onde ocorreram incêndios, visto serem estas as que apresentam o índice mais baixo (NDVI), devido à ausência de vegetação. O cálculo deste índice para vários períodos do ano permite acompanhar a evolução da vegetação, com especial interesse para a determinação de áreas com mais matéria seca, obtida pela diferença entre o período de máximo desenvolvimento vegetativo e o período de debilitação da vegetação, informação útil para a definição de áreas de risco de incêndio.        

Palavras chave: Incêndios Florestais; Variação Espácio-temporal; NDVI, Tarouca. 

Modelação da Suscetibilidade e Risco de Movimentos de Vertente no Concelho de Tarouca – Determinação de Rotas de Emergência

Referência bibliográfica:
Meneses, B.M. & Zêzere, J.L (2012) – Modelação da Suscetibilidade e Risco de Movimentos de Vertente no Concelho de Tarouca – Determinação de Rotas de Emergência. In Royé, D.; Vázquez, J.A.; Díaz, M.V.; Otón, M.P. & Mantiñam, M.J. (eds) XIII Iberian Symposium of Geography, Respuestas de la Geografía Ibérica a la crisis actual (reviewed), Santiago de Compostela, pp. 341-351. ISBN-13: 978-84-940469-7-1.

MENESES, BRUNO M.
Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, Universidade de Lisboa
santana.meneses@gmail.com

ZÊZERE, JOSÉ L.
Centro de Estudos Geográficos, Universidade de Lisboa
zezere@campus.ul.pt

RESUMO

Os movimentos de vertente são um problema no Concelho de Tarouca devido aos prejuízos que têm causado, nomeadamente a destruição ou interrupção de vias rodoviárias principais que deixa isoladas pequenas povoações. Neste contexto, determinou-se a suscetibilidade à ocorrência de movimentos de vertente e localizou-se o risco através do somatório da Carta de Suscetibilidade reclassificada com Carta de Elementos Expostos. Os resultados obtidos serviram para simular rotas de emergência alternativas considerando a rutura das vias rodoviárias nos locais com elevada probabilidade de ocorrer movimentos de vertente.

Palavras-chave: Movimentos de vertente; Avaliação da suscetibilidade e risco; Condicionalismos operacionais, Rotas de emergência; Concelho de Tarouca.

ABSTRACT

The landslides are a problem in the Tarouca County due to the losses they have caused in the past, such as destruction or disruption of main roads, leaving small villages isolated. In this context, we determined the susceptibility of occurrence of landslides and localized the risk using the sum of the Map Susceptibility reclassified with the Map of Exposed Elements. The results were used to simulate alternative emergency routes considering the rupture of roads in places with high probability of landslide occurrence.

Keywords: Landslides; Susceptibility and risk assessment; Operational constraints; Emergency routes; Tarouca County.

1. INTRODUÇÃO

Os movimentos de vertente são processos responsáveis por avultados danos materiais e perdas humanas em todo o mundo (DAS et al., 2011). Para a avaliação da suscetibilidade à ocorrência destes movimentos têm-se desenvolvido várias técnicas, destacando-se os modelos estatísticos (GUZZETTI, 2005; VAN DEN EECKHAU et al., 2009). A suscetibilidade traduz a probabilidade da ocorrência de um movimento de vertente em função de determinadas condições no terreno, ou seja, é avaliada pela correlação espacial que se estabelece entre os fatores de predisposição (e.g. declive, geologia, uso do solo, entre outros) e a distribuição dos movimentos de vertente observados no território (BRABB, 1984; CROZIER e GLADE, 2005; GUZZETTI, 2005; THIERY et al., 2007). Na modelação da suscetibilidade parte-se da assunção de que “o passado e o presente são a chave do futuro” (VARNES, 1984; VAN DEN EECKHAU et al., 2009), ou seja, no futuro a probabilidade de ocorrência de movimentos de vertente é maior sob as mesmas condições que geraram instabilidade no passado.
Na avaliação do risco de movimentos de vertente são considerados os seguintes fatores (VARNES, 1984; CROZIER e GLADE, 2005): perigosidade natural (probabilidade da ocorrência de um movimento potencialmente destruidor, num determinado período de tempo, numa dada área), vulnerabilidade (grau de perda de um elemento ou conjunto de elementos em risco, entre eles a população, estruturas, infraestruturas e atividades, em resultado da ocorrência de uma manifestação de instabilidade de determinada magnitude) e o valor (económico, estratégico ou simbólico) dos elementos em risco. A suscetibilidade é a componente espacial da perigosidade e do seu cruzamento com os elementos expostos obtém-se a localização do risco, não quantificado (JULIÃO et al, 2009).
Os movimentos de vertente, dependendo da sua magnitude, podem destruir infraestruturas estratégicas, vitais e sensíveis e pôr em causa a eficácia de serviços operacionais. Destes elementos destacam-se as vias de comunicação, em particular as vias rodoviárias, cuja perda impede ou interfere na intervenção eficaz das equipas de socorro numa eventual emergência. As estradas são frequentemente afetadas por movimentos de vertente, devido ao corte e abertura de taludes para a sua construção, por vezes mal dimensionados, pondo em causa a sustentação do material que compõe a vertente (HIGHLAND e BOBROWSKY, 2008; DAS et al., 2011; TANG et al., 2011).
Neste trabalho apresenta-se a avaliação da suscetibilidade a movimentos de vertente no concelho de Tarouca e a localização do risco, que decorre da interceção da suscetibilidade com os Elementos Expostos. São discutidos ainda os condicionalismos operacionais que podem resultar da interrupção de vias rodoviárias devida à instabilidade das vertentes.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Área de estudo

 O Concelho de Tarouca é a área de estudo. Este situa-se no N do Distrito de Viseu, compreende 100,1km2 e é composto por dez freguesias (Fig. 1). No relevo desta área destaca-se o Vale do Varosa (amplo entre Mondim da Beira e Dalvares e mais encaixado para jusante) e a Serra de Santa Helena (1.100m de altitude), área onde se encontram as vertentes de maior declive. A Sw da Serra encontra-se uma área de aplanação poligénica da Meseta designada superfície fundamental (SOLE, 1952; citado por FERREIRA e SOUSA, 1994). Quanto à geologia, predominam os xistos a Sw da Serra de Santa Helena, enquanto os granitos são dominantes a N, com os fundos de vale ocupados por aluviões. Relativamente à ocupação do solo, destacam-se as florestas (5.630,6ha) e com menor expressão as áreas agrícolas (2.822,8ha), agroflorestais (1.360,4ha) e urbanas (196,2ha).
Neste Concelho a distribuição espacial da população é muito dispersa (várias povoações e aldeias) com exceção da Cidade de Tarouca, local onde se concentram todos os equipamentos operacionais ou de reação e emergência (Bombeiros Voluntários, Proteção Civil, GNR e Centro de Saúde). Esta cidade é atravessada por uma das principais vias rodoviárias do Concelho (E.N. 530), considerada estratégica por funcionar em rede com outras vias principais (e.g. E.N. 226) e permitir a ligação de estradas secundárias das várias freguesias aos equipamentos referidos.
Na área de estudo ocorrem frequentemente movimentos de vertente, principalmente nas vertentes da Serra de Santa Helena (destaque para as escoadas) e no Vale do Varosa (destaque para o seu setor jusante com maior instabilidade das vertentes por deslizamentos rotacionais e translacionais). As vertentes deste setor estão regularizadas antropicamente através da construção de socalcos, estruturas bastante afetadas pelos consecutivos movimentos de vertente. Os movimentos de maior dimensão que ocorreram nestes dois locais causaram no passado a interrupção de vias rodoviárias e originaram condicionalismos, tanto aos utentes que ali circulam frequentemente como aos serviços de emergência e socorro, que viram a sua eficácia reduzida.

Figura 1. Enquadramento geográfico do Concelho de Tarouca.


2.2. Modelação da suscetibilidade e localização do risco de movimentos de vertente


Para a modelação da suscetibilidade inventariaram-se todos os movimentos de vertente (deslizamentos rotacionais, deslizamentos translacionais e escoadas) ocorridos no Concelho de Tarouca. Neste procedimento, recorreu-se à fotointerpretação e à análise da topografia para a identificação de formas de instabilidade de vertentes, com posterior validação no campo dos movimentos inventariados, ação que permitiu identificar outros movimentos não detetados pelas técnicas anteriormente referidas, devido à sua reduzida dimensão.
Para a determinação da suscetibilidade recorreu-se ao método estatístico do Valor Informativo (VI) apresentado em YIN e YAN (1988). Este método permitiu determinar espacialmente a probabilidade de ocorrência dos próximos movimentos de vertente separadamente para cada uma das três tipologias consideradas. Para esta avaliação calculou-se primeiro as probabilidades condicionadas, obtendo-se a indicação objetiva e quantificada da importância relativa de cada variável na distribuição dos movimentos (ZÊZERE et al., 2009) e as probabilidades a priori, indicando estas a probabilidade de uma unidade de terreno conter movimentos de vertente, sem considerar os fatores condicionantes (THIERY et al., 2007). Estas probabilidades e o Valor Informativo obtêm-se pelas seguintes equações:

onde: PCji é à probabilidade condicionada de ocorrência de movimentos do tipo y na classe i do mapa temático j [1.1]; Si é o número de unidades de terreno matriciais com movimentos de vertente na variável Xi; Ni é o número de unidades de terreno matriciais com a variável Xi; Pp é a probabilidade a priori de ocorrência de movimentos de vertente [1.2]; S é o número total de unidades de terreno matriciais com movimentos de vertente; N é o número total de unidades de terreno matriciais da área de estudo; Ii é o Valor Informativo de cada variável independente [1.3]; Ij é o Valor Informativo total no pixel j [1.4]; n é o número de variáveis; e Xij assume o valor 1 ou 0 consoante a presença ou não da variável na unidade de terreno.

A validação dos resultados da suscetibilidade obtidos pelo modelo do Valor Informativo fez-se através de taxas de sucesso, onde todos os movimentos que integraram a modelação serviram para a respetiva validação. Através destes resultados elaboraram-se curvas de sucesso para a avaliação qualitativa da robustez do modelo e quantificou-se a sua performance através do cálculo da área abaixo da curva (ZÊZERE et al., 2009). Depois de validados todos os mapas de suscetibilidade dos vários tipos de movimentos, estes foram integrados de modo a obter uma Carta de Suscetibilidade a Movimentos de Vertente do Concelho de Tarouca, considerando-se nesta operação as orientações estratégicas de âmbito nacional para as tipologias de áreas integradas em Reserva Ecológica Nacional. Estas orientações estabelecem que na figura das Áreas de Instabilidade de Vertentes da REN deve ser integrada uma área suficiente para garantir a inclusão de uma fração nunca inferior a 70% das áreas identificadas como instabilizadas (DGOTDU, 2010).   
A localização do risco de movimentos de vertente resulta da sobreposição da Carta de Suscetibilidade a Movimentos de Vertente reclassificada com a Carta de Elementos Expostos presentes na área de estudo. Na elaboração desta última carta considerou-se a localização dos equipamentos estratégicos/vitais/sensíveis (GNR, Proteção Civil, vias rodoviárias principais e escolas), dos sistemas produtivos com dependência externa e das áreas com concentração de população, conforme as orientações estratégicas da Autoridade Nacional de Proteção Civil (JULIÃO et al., 2009). A cada elemento exposto foi atribuído o valor de 1 e a informação foi convertida em raster e posteriormente somada. Estas operações permitiram obter a carta com localização dos elementos expostos, diferenciada em função da quantidade de elementos presente por cada unidade matricial.

2.3. Avaliação de condicionalismos resultantes da perda de infraestruturas estratégicas por movimentos de vertente

Das infraestruturas presentes na área em estudo destaca-se as vias rodoviárias, muitas delas com elevada importância por serem únicas no acesso a pequenas povoações. Neste sentido é fundamental conhecer os locais onde é mais provável que ocorram as próximas interrupções, seja pela perda da via (parcial ou total), ou pela obstrução por material resultante dos movimentos de vertente.  
Para a elaboração de cenários de perda de vias rodoviárias em função da probabilidade de ocorrência de movimentos de vertente utilizou-se a Carta de Suscetibilidade cruzada com a localização das vias principais, obtendo-se assim os locais com maior probabilidade de ocorrência das próximas interrupções por estes processos. Em função destas interrupções determinaram-se vias alternativas (Fig. 2) e aferiram-se os principais fatores inconvenientes em caso de emergência.

Figura 2. Modelo de análise de percursos ótimos em função da perda de vias rodoviárias por movimentos de vertente.


3. MODELAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS
3.1. Probabilidades condicionadas e a priori dos fatores de predisposição

Os fatores de predisposição ou variáveis independentes consideradas na modelação da suscetibilidade apresentam-se no Quadro 1. A área de cada classe e a área instabilizada por um tipo particular de movimentos de vertente dentro de cada classe permitiram calcular as probabilidades condicionadas também apresentadas neste quadro, correspondendo os valores a negrito aos fatores com mais peso na distribuição da instabilidade.
As probabilidades a priori calcularam-se a partir da área instabilizada dos três tipos de movimentos. Para os deslizamentos rotacionais (2200m2) obteve-se a probabilidade de 0,0000220; já nos deslizamentos translacionais (18300m2) obteve-se 0,0001829 e para as escoadas (26200m2) obteve-se 0,0002618.

3.2. Suscetibilidade a movimentos de vertente

A suscetibilidade a movimentos de vertente na área de estudo é muito distinta consoante o tipo de movimento considerado (Fig. 3). A probabilidade de ocorrência de deslizamentos rotacionais mais elevada observa-se no setor S (área composta essencialmente por xistos e de fraco declive); nos deslizamentos translacionais sobressai todo o Vale do Varosa com a probabilidade mais elevada, nomeadamente em áreas agrícolas de socalcos, com reduzido coberto vegetal; no caso das escoadas destaca-se a Serra de Santa Helena devido ao declive das suas vertentes e aos depósitos de vertente aqui presentes que são alvo de remobilização.

Figura 3. Suscetibilidade a movimento de vertente por tipologia.


Quadro 1. Probabilidades condicionadas e Valores Informativos obtidos para as classes dos fatores de predisposição para os três tipos de movimentos de vertente considerados. Os VI a negrito foram atribuídos manualmente, considerando-se o decimal mais baixo por comparação ao VI mínimo obtido na variável.
Variáveis
Classes e ID atribuído na reclassificação
Área de cada classe
 (m2)
Área do movimento
(m2)
Probabilidade condicionada (PCji)
Valor Informativo
(VI)
D. Rotac.
D. Transl.
Escoada
D. Rotac.
D. Transl.
Escoada
D. Rotac.
D. Transl.
Escoada
Declive
0-5°=1
19785000
1300
3800
1300
0.000066
0.000192
0.000066
1.0948
0.0490
-1.3825
5-10°=2
32024100
200
1500
6500
0.000006
0.000047
0.000203
-1.2585
-1.3621
-0.2546
10-15°=3
22884900
100
3000
6300
0.000004
0.000131
0.000275
-1.6157
-0.3329
0.0502
15-20°=4
14632500
400
4600
7500
0.000027
0.000314
0.000513
0.2178
0.5417
0.6717
20-25°=5
7387300
200
3900
2800
0.000027
0.000528
0.000379
0.2082
1.0602
0.3699
25-30°=6
2630600
0
1200
700
0.000000
0.000456
0.000266
-1.7000
0.9140
0.0162
>30°=7
722400
0
300
1100
0.000000
0.000415
0.001523
-1.7000
0.8201
1.7606
Exposição
Plano=0
103
0
0
0
0.000000
0.000000
0.000000
-0.5000
-0.6000
-3.0000
NW=1
10310600
800
1100
900
0.000078
0.000107
0.000087
1.2611
-0.5389
-1.0985
W=2
12789200
700
3900
5100
0.000055
0.000305
0.000399
0.9121
0.5113
0.4207
SW=3
13667900
300
1800
7200
0.000022
0.000132
0.000527
-0.0016
-0.3283
0.6991
S=4
9874200
200
1100
700
0.000020
0.000111
0.000071
-0.0820
-0.4957
-1.3065
SE=5
9514300
0
4400
3200
0.000000
0.000462
0.000336
-0.5000
0.9277
0.2504
E=6
12074600
0
1400
3500
0.000000
0.000116
0.000290
-0.5000
-0.4557
0.1017
NE=7
17093700
0
2200
5400
0.000000
0.000129
0.000316
-0.5000
-0.3513
0.1878
N=8
14742200
200
2400
200
0.000014
0.000163
0.000014
-0.4828
-0.1163
-2.9601
Curva- tura
Convexo =1
41521200
1000
9800
17200
0.000024
0.000236
0.000414
0.0912
0.2551
0.4588
Retilíneo =2
13003200
100
2000
2200
0.000008
0.000154
0.000169
-1.0504
-0.1731
-0.4367
Côncavo =3
45542400
1100
6500
6800
0.000024
0.000143
0.000149
0.0940
-0.2479
-0.5616
Geologia
Filão =1
856700
0
200
100
0.000000
0.000233
0.000117
-1.0000
0.2442
-0.8078
Granito g. fino =2
11038600
0
2400
2500
0.000000
0.000217
0.000226
-1.0000
0.1730
-0.1450
Granito g. méd. =3
61522300
500
14300
22300
0.000008
0.000232
0.000362
-0.9951
0.2398
0.3253
Filitos =4
5455600
200
500
0
0.000037
0.000092
0.000000
0.5114
-0.6909
-2.1000
Aluviões =5
1605100
200
100
0
0.000125
0.000062
0.000000
1.7348
-1.0768
-2.1000
Xisto =6
17677700
1300
800
600
0.000074
0.000045
0.000034
1.2075
-1.3965
-2.0430
Conglomerados =7
110000
0
0
0
0.000000
0.000000
0.000000
-1.0000
-1.4000
-2.1000
Depósitos vert. =8
137200
0
0
0
0.000000
0.000000
0.000000
-1.0000
-1.4000
-2.1000
Granito g. gross.=9
1401300
0
0
0
0.000000
0.000000
0.000000
-1.0000
-1.4000
-2.1000
Quartzitos =10
268300
0
0
700
0.000000
0.000000
0.002609
-1.0000
-1.4000
2.2991
NDVI
0 – 0.25 =1
169500
0
0
0
0.000000
0.000000
0.000000
-0.1000
-2.1000
-0.8000
0.25 – 0.5 =2
22965800
8200
3800
1500
0.000357
0.000165
0.000065
0.3103
-0.0999
1.0890
0.5 – 0.75 =3
68485100
17900
14300
700
0.000261
0.000209
0.000010
-0.0016
0.1327
-0.7658
0.75 - 1 =4
8460000
100
200
0
0.000012
0.000024
0.000000
-0.1000
-2.0457
-0.8000
Uso do solo
Agrícola =1
20693500
200
3600
700
0.000010
0.000174
0.000034
-0.8217
-0.0498
-2.0463
Urbano =2
2587800
0
100
0
0.000000
0.000039
0.000000
-0.9000
-1.5543
-2.1000
Agric. e florestal =3
17749100
300
1100
2700
0.000017
0.000062
0.000152
-0.2628
-1.0820
-0.5429
Florestal =4
58773100
1700
13500
22800
0.000029
0.000230
0.000388
0.2745
0.2281
0.3933
Inculto =5
276900
0
0
0
0.000000
0.000000
0.000000
-0.9000
-1.6000
-2.1000
Solo
Isg =1
62500
0
0
0
0.000000
0.000000
0.000000
0.5841
-0.5000
-0.6000
Idox1=2
2711100
0
0
0
0.000000
0.000000
0.000000
0.5841
-0.5000
-0.6000
Tatdg =3
22830400
900
7000
4000
0.000039
0.000307
0.000175
0.5841
0.5169
-0.4016
Idog =4
19350700
0
5400
6100
0.000000
0.000279
0.000315
0.5841
0.4227
0.1858
Idox =5
1247000
0
0
0
0.000000
0.000000
0.000000
0.5841
-0.5000
-0.6000
Iug =6
21436700
0
2500
13200
0.000000
0.000117
0.000616
0.5841
-0.4497
0.8553
Tatdx =7
251400
0
0
0
0.000000
0.000000
0.000000
0.5841
-0.5000
-0.6000
Bdog =8
11159200
0
2500
0
0.000000
0.000224
0.000000
0.5841
0.2031
-0.6000
Jdoa =9
1483500
0
0
0
0.000000
0.000000
0.000000
0.5841
-0.5000
-0.6000
Iux =10
13248300
1300
0
2200
0.000098
0.000000
0.000166
1.4960
-0.5000
-0.4552
Urb =11
689800
0
0
0
0.000000
0.000000
0.000000
0.5841
-0.5000
-0.6000
Buox =12
4866800
0
0
700
0.000000
0.000000
0.000144
0.5841
-0.5000
-0.5989
Buog =13
742800
0
900
0
0.000000
0.001212
0.000000
0.5841
1.8910
-0.6000

A validação dos resultados dos três modelos de suscetibilidade obtidos pelo método do Valor Informativo fez-se com todos os movimentos que lhe deram origem (128 movimentos). As curvas de sucesso (Fig. 4) confirmam a elevada performance dos modelos de suscetibilidade (e.g. 1% da área total classificada como mais suscetível aos deslizamentos rotacionais inclui cerca de 59% de área instabilizada por este tipo movimentos, aumentando para 77% aos 12% de área total classificada como suscetível e 95% aos 25%, consecutivamente).
Os três mapas de suscetibilidade depois de reclassificados, com base nas orientações estratégicas de âmbito nacional para as tipologias de áreas integradas na REN (DGOTDU, 2010), foram somados e obteve-se o mapa final de suscetibilidade a movimentos de vertente (Fig. 5). Nesta reclassificação considerou-se o valor 1 para os scores de VI acima do qual estão validados 70% da área total instabilizada e o valor 0 para os scores de VI abaixo deste valor.

Figura 4. Curvas de sucesso e respetiva área abaixo da curva (AAC).

No mapa de suscetibilidade obtido, a classe elevada corresponde ao valor 3 obtido no somatório dos três mapas, ou seja, trata-se de áreas suscetíveis, em simultâneo, aos 3 tipos de movimentos de vertente considerados; quando o resultado do somatório é 2 a suscetibilidade é considerada moderada, tratando-se, neste caso, de áreas bastante suscetíveis a 2 dos 3 tipos de movimentos. Estas duas classes têm forte incidência em áreas de forte declive, como são exemplo as vertentes da Serra de Santa Helena voltadas para a cidade de Tarouca e as vertentes do Vale do Varosa junto à localidade de São João de Tarouca. A classe de suscetibilidade reduzida corresponde a casos em que o resultado do somatório é 1, indicando suscetibilidade elevada a um tipo específico de movimento de vertente e a classe muito reduzida, dominante no concelho (54,02%), denuncia o resultado nulo do somatório dos três mapas.

Figura 5. Suscetibilidade a movimentos de vertente do Concelho de Tarouca.

3.3. Localização do risco a movimentos de vertente

A identificação territorial das zonas de risco resulta da interceção da Carta dos Elementos Expostos com a Carta de Suscetibilidade a Movimentos de Vertente. Esta avaliação complementou-se com a integração do cálculo da distância/tempo percorrida a partir dos equipamentos operacionais (e.g. quartel de Bombeiros Voluntários de Tarouca), admitindo-se que nas áreas mais afastadas há um incremento do risco devido ao aumento do tempo de reação dos agentes de proteção civil num eventual cenário de emergência. Destas operações resultou a Carta de Localização do Risco (não quantificado) (Fig. 6). As áreas que se destacam com risco mais elevado são as vertentes da Serra de Santa Helena e o setor montante e jusante do Vale do Varosa.

Figura 6. Localização do risco de movimentos de vertente.

3.4. Condicionalismos operacionais resultantes da interrupção de vias rodoviárias


Os percursos ótimos (distância mais curta) foram determinados admitindo a interrupção das vias rodoviárias principais do Concelho de Tarouca quando estas intersetam as áreas de maior suscetibilidade geomorfológica. Também se determinaram percursos ótimos sem considerar estas possíveis interrupções para posterior comparação. Pela elevada importância da eficiência dos serviços de emergência, simularam-se rotas alternativas de emergência entre os equipamentos operacionais (BVT) e as áreas de risco mais elevado à ocorrência de movimentos. No cálculo das novas rotas de emergência considerou-se sempre a distância mais curta entre dois pontos (A e B na Fig. 7).
Nos resultados obtidos da simulação sem corte das vias nos locais de maior suscetibilidade, o percurso mais curto entre os pontos A e B tem 5,22Km e demoraria cerca de 6,3 minutos a ser percorrido, admitindo a velocidade média de 50km/h, sem considerar condicionantes físicas (e.g. declives), sinalização rodoviária ou densidade do tráfego. Na simulação em que se inseriu a suscetibilidade, este percurso é interrompido, sendo o percurso ótimo alternativo de 14,99km, o que corresponde a 18 minutos de percurso, admitindo as mesmas condições da simulação anterior. Estes aumentos de distância e tempo de percurso evidenciam a redução da eficácia dos meios operacionais numa eventual emergência na área marcada pelo ponto B da Figura 7.

Figura 7. Rotas de emergência entre um equipamento de socorro (BVT)(Ponto A) e uma área de risco elevado (Vilarinho) (Ponto B). No mapa da esquerda representa-se um percurso normal entre os pontos A e B; o mapa da direita mostra o percurso alternativo em caso de interrupção da estrada principal por um movimento de vertente.

5. CONCLUSÃO

A suscetibilidade de ocorrência de movimentos de vertente é muito distinta quando se considera individualmente cada tipo de movimento, destacando-se a Serra de Santa Helena com elevada probabilidade de ocorrência de escoadas, enquanto os deslizamentos rotacionais são mais prováveis no setor sul da área de estudo e os deslizamentos translacionais em todo o Vale do Varosa, com destaque para o setor montante. As vertentes da Serra de Santa Helena e algumas vertentes dos setores montante e jusante do Vale do Varosa destacam-se pelo risco que apresentam, como se provou pelo cruzamento da suscetibilidade com os elementos expostos.
Os movimentos de vertente no Concelho de Tarouca são um problema devido aos vários prejuízos que têm causado. Destaca-se a perda de infraestruturas estratégicas, em particular as vias rodoviárias, responsáveis por diversos condicionalismos como por exemplo o isolamento de algumas povoações, aumento da distância percorrida de determinados percursos pendulares e a redução da eficácia dos meios operacionais de emergência devido à perda dos melhores acessos.
A interrupção das vias rodoviárias nos locais de elevada suscetibilidade resultará no aumento da distância percorrida e do tempo de percurso, contratempos com interferência na reação dos meios operacionais num eventual cenário de emergência.
Os resultados obtidos neste trabalho podem ser facilmente integrados nos planos de emergência do município estudado.

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