segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Definição de Áreas Seguras e Rotas de Emergência em Situação de Sismo no Município de Lisboa

Este trabalho foi elaborado por Bruno Meneses e Mara Rocha e é apenas um exemplo da aplicação dos Sistemas de Informação Geográfica no Ordenamento do Território.


Enquadramento teórico

Numa sociedade em que os fenómenos, quer naturais quer sociais, se alastram a uma velocidade alucinante, os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) assumem particular relevância na medida em que possibilitam a introdução da componente de análise espacial de forma a avaliar e prever diferentes cenários, contribuindo assim na tomada de decisões mais atempadas e acertadas. Os SIG são uma das mais elaboradas e potentes ferramentas que abarcam um conjunto de técnicas, métodos, hardware e software que permitem a recolha, armazenamento, tratamento e gestão de informação georreferenciada. São várias as definições de SIG, reflectindo “cada uma à sua maneira, a multiplicidade de usos e visões possíveis desta tecnologia e apontam para uma perspectiva interdisciplinar da sua utilização” (Câmara et al, 1996). Neste contexto, pode dizer-se que os SIG são um meio para compreender e gerir o território nas suas mais variadas acepções e têm vindo a comprovar a sua importância na tomada de decisões, através operações de planeamento, gestão e controlo.

A facilidade no tratamento e análise dos dados espaciais para investigação e para um melhor conhecimento dos fenómenos, tanto naturais como antrópicos, tem tentado integrar esse tipo de informação numa linguagem própria, sendo a Internet um meio de desenvolvimento e disponibilização dos dados geográficos. O acesso e a utilização dos SIG disponíveis na Internet, sobretudo nas suas versões de software Freeware e OpenSource, revela-se extremamente importante, visto que os utilizadores têm a oportunidade de usufruir de um serviço bastante útil, na medida em que podem aceder a um conjunto de informação espacial relevante, com custos reduzidos e não sendo necessário ser detentor de conhecimentos sólidos de SIG (Barriguinha, 2008). Entende-se, assim, por WebGIS, o conjunto de dados cartográficos disponibilizados na Internet que permite aos seus utilizadores o acesso à informação geográfica de modo interactivo, dinâmico, actualizado e remoto (Veras et al, 2009).

A funcionalidade e êxito do WebGIS deve-se, em muito, ao desenvolvimento da Internet, em que o utilizador não necessita de ter qualquer software SIG instalado no computador pessoal, uma vez que, estando ligado em rede consegue aceder a todos os dados e software remotamente, não sendo, por isso necessário, que a localização onde estão armazenados os dados, a localização do processamento destes e a localização do utilizador seja a mesma.

As constantes modificações que se verificam no território, levam a que os municípios incrementem medidas relativamente ao controlo de tendências de expansão e ocupação do espaço. Essas medidas assentam num modelo global a partir do qual se definem as grandes orientações que devem proporcionar modelos de desenvolvimento, tendo por base uma política de integração. Os SIG são imprescindíveis para um conhecimento dos problemas e da realidade de cada município, nas diversas áreas de intervenção, tornando as decisões do poder público mais facilitadas e convenientes, permitindo o WebGIS que qualquer cidadão mais interessado possa ter acesso a essas informações e consiga interpretá-las de uma forma simples, sem que para tal necessite de ter conhecimentos sólidos da aplicação. Neste contexto, o WebGIS enquadra-se inteiramente nos organismos que pretendem dar a conhecer os estudos e projectos que desenvolvem, assim como as suas bases de dados geográficos. A disponibilização deste tipo de informação actualizada na rede interna (intranet) de cada município, é uma mais-valia facilitando o trabalho dos técnicos, na medida em que lhes é possível confrontar as solicitações dos munícipes com os Instrumentos de Gestão do Território (IGT). A informação disponibilizada tenta que a manipulação por parte dos utilizadores seja fácil, permitindo a sobreposição de diferentes informações no mesmo mapa, para uma análise mais dinâmica da realidade.

Cada vez mais se torna necessário e justifica o desenvolvimento de aplicações de informação com uma arquitectura consistente que possibilitem um conhecimento crescente e a troca de informação usufruindo totalmente dos dados recolhidos. Debruçando-se este ensaio na temática dos sismos, mais especificamente, na delimitação de áreas seguras, os SIG assumem particular importância na elaboração de Planos Municipais, permitindo identificar o risco, as possíveis consequências ou danos e definir estratégias de gestão de meios e recursos, como forma de prevenção.

Posto isto, considera-se fundamental a implementação do WebGIS, como tendo inúmeras vantagens para a governação dos municípios, na medida em que permitem uma diminuição dos custos, uma duplicação na produção dos dados, possibilitando uma “… melhoria na análise, planeamento e administração do desenvolvimento urbano, especialmente quando está envolvida informação supra-municipal, que extravasa o limite concelhio” (Dias, 2006).


Objectivos

Nas últimas décadas o Homem tem assistido a sucessivos desastres naturais, que têm causado inúmeras vítimas mortais e prejuízos materiais. Estarão estes fenómenos naturais a aumentar ou trata-se apenas de uma maior e melhor divulgação da informação sobre os acontecimentos?

Segundo alguns autores, muitos destes fenómenos estão directamente relacionados com as alterações climáticas. Devido à importância e utilidade da temática, seleccionámos o fenómeno natural dos sismos. Este fenómeno está ligado à dinâmica interna da Terra, isto é, à sua natureza tectónica, portanto é impossível prever quando e onde podem ocorrer, muito menos a intensidade e magnitude. Desta forma, consideramos ser de extrema importância determinar as áreas mais seguras, na cidade de Lisboa, em situação de sismo, de forma a minimizar os riscos e aumentar a consciencialização da população, tendo nos Sistemas de Informação Geográfica a base para a aplicação dos métodos de análise.

Assim, neste projecto vamos efectuar uma abordagem sistémica tendo por base alguns itens fundamentais na determinação da Perigosidade, ao determinar no território quais as áreas mais afectadas em caso de sismo e em função destas, considerar áreas em que a população está mais vulnerável.

Com esta informação vamos efectuar um prognóstico da destruição em caso de desastre e avaliar os locais de maior aptidão para dar resposta às vítimas da catástrofe.

Este ensaio teve por base a informação descrita no relatório de BEZZEGHOUD, M. et. al. (2003) onde são mencionados os Mecanismos Focais dos Sismos em Portugal Continental, a sua localização (distribuição) e a magnitude dos 40 sismos mais significativos.

Dentro da área de estudo (AE), pretende-se também, definir as rotas de emergência, dos pontos considerados mais inseguros ou áreas mais afectadas, para o Hospital de Santa Maria em Lisboa. Não satisfeitos apenas com estes objectivos, achou-se por bem determinar uma área de influência no acesso às áreas mais seguras e o tempo do percurso através de isócronas. Este último objectivo prende-se com um cenário de destruição total, onde todos os equipamentos são afectados, surgindo aqui a necessidade de utilizar estas áreas mais seguras para a instalação de equipamentos provisório (ex. hospital de campanha, áreas de refugio, entre outros).

Material utilizado


Para a concretização deste trabalho, utilizou-se cartografia em formato vectorial disponibilizada pela CML e recolheu-se outra através dos ortofotomatas também disponibilizados por esta entidade. Além desta, recorreu-se a outros softwares para a recolha de mais informação e respectivo tratamento. A tabela 1 resume toda a informação utilizada, além do software e hardware utilizado.

Tabela 1. Descrição do hardware, software e informação utilizada.


Modelo de dados


O modelo entidade/relação representa o método da estruturação dos dados e as relações existente entre os mesmos. Este modelo tem a entidade, o que se denomina por nome ou descrição e o objecto (identificado de forma única), contendo um conjunto de atributos que são a sua propriedade. As relações podem ser do tipo UM para UM (1:1), UM para MUITOS (1:N) e de MUITOS para MUITOS (N:N).


FIG. 1. Modelo de dados e respectivas relações

As relações existentes entre as várias tabelas são diferentes, como exemplificado na fig. 1. Entre o município e as freguesias há uma relação de 1:N, visto existirem várias freguesias dentro do município, contendo neste caso, a primeira tabela (entidade) uma chave primária ID_Município e na segunda um ID_Freguesias, mas nesta última tabela tem uma chave estrangeira igual ao campo da primeira entidade (ID_Município). Entre as freguesias e os bombeiros há uma relação de N:N, porque há vários quartéis a abranger várias freguesias e vice-versa, logo tem de haver uma terceira tabela (entidade de intercepção)  onde a chave primária é formada pelos campos com o mesmo nome e tipo dos campos que são chave primária das entidades que lhe deram origem. A relação entre o município e a área de estudo é de 1:1, porque corresponde há mesma área, tendo neste caso chaves primárias iguais.


Metodologia

Depois de recolhida toda a informação criou-se uma base de dados e dentro desta uma feature dataset, para onde se importaram todas as shapefiles (formato inicial) convertendo-as em feature class. Esta base de dados com o nome SIGM tem especificações próprias, como o sistema de coordenadas (ETRS 1989 Portugal TM06). Para que toda a informação esteja compatível, foi necessário fazer algumas projecções de outros sistemas de coordenadas para o mesmo da base de dados e só depois, se fez a importação para dentro da feature dataset criada na base de dados. Ainda dentro da base de dados criou-se uma toolbox, permitindo-nos criar no seu interior modelos (Model Builder) onde se realizaram todas as operações de análise espacial, entre outras e, ainda, criar uma nova ferramenta, através da adição de um novo script (If-then-else).

Para se ter a certeza de que toda a informação estava correctamente projectada para o sistema de coordenadas da base de dados, utilizou-se a CAOP disponível online no site do Instituto Geográfico Português (IGP).

Na informação recolhida no Google Earth, procedeu-se à criação de pontos e linhas de toda a informação anteriormente referida no ponto 4 através das ferramentas disponíveis por este software. Guardou-se o ficheiro em formato Kmz e, posteriormente, procedeu-se à sua conversão para shapefile no site www.zonums.com. O procedimento de projecção dos sistemas de coordenadas foi igual ao anteriormente mencionado.

Definiu-se no Model Builder que todos os outputs resultantes das várias análises feitas, deveriam ter um pixel de 10 por 10 (100m2) e deveriam estender a sua análise a toda a área de estudo (município de Lisboa). Além destas especificações, teve-se o cuidado de guardar todos os modelos com caminhos relativos.

Para uma melhor percepção e simplificação das diversas operações, criaram-se vários modelos, dividindo-se estes por partes, tendo em conta as análises feitas entre as variáveis negativas, positivas e network analyst (tempo/distância e rotas).

Com os modelos construídos, inseriram-se todos, excepto do network analyst, num modelo final, do qual resultou parte do resultado pretendido (áreas mais seguras).



Modelo de variáveis negativas
 
Na selecção das variáveis para este modelo, teve-se em conta todas as varáveis físicas que influenciam directamente o território, tanto a nível positivo, como negativo.

Começou por se elaborar um Modelo Digital de Terreno (MDT) a partir da altimetria, obedecendo a critérios específicos, tipo a área de modelação (AE) e a triangulação do tipo hardline. A partir deste obtiveram-se as exposições das vertentes e o grau de inclinação das mesmas. Para as exposições, através de processos de reclassificação, consideraram-se todas as vertentes voltadas a Sul, devido a cada uma das condicionantes decorrentes da sua exposição (tipo de vegetação, voltadas para o Rio Tejo, logo poderão ser mais influenciadas em caso de tsunami, entre outros), enquanto nos declives, consideraram-se apenas as vertentes com declive superior a 20º, devido aos problemas que poderão resultar da sua inclinação e forma, no caso de ocorrer um sismo (ex. deslizamentos, balançamentos, maior susceptibilidade de destruição do edificado, …). Finalizado este primeiro ponto, somou-se o resultado das duas matrizes (outputs em raster resultantes dos processos anteriores) obtendo-se uma nova matriz com o que se considerou de Factor Terreno/Forma.

A geologia é uma das variáveis mais importantes deste trabalho, porque consoante o substrato e unidades adjacentes, a propagação das ondas sísmicas (Primárias, Secundárias, Rayleigh e Love) será diferenciada, com maior propagação em unidades sedimentares face às unidades compactas (ex, Complexo Vulcânico de Lisboa). Assim, seleccionaram-se todas as unidades sedimentares (ex. areias, argilas, …) e excluíram-se as unidades compactas (ex. calcários), obtendo-se uma matriz com todas as áreas com maior potencial de destruição.

Como factor agravante, também com elevada importância, estão as falhas geológicas activas (normais e inversas) prováveis ou certas, consideradas por alguns autores como os pontos onde ocorrem maiores movimentos, principalmente nas falhas activas . Calculou-se para estas, um raio de 2Km em seu redor, do qual resultou a área de influência com maior perigo.

As áreas de inundação determinaram-se a partir da altimetria, da qual se seleccionou toda a área inferior à cota dos 30m junto ao rio, reconvertendo-se esta informação para raster e posterior reclassificação.

O uso do solo, embora esteja representado apenas por grandes polígonos com o uso, é uma boa variável, pois permite tornar mais homogénea toda uma área onde a informação, por vezes, está em falta noutras variáveis. Assim, considerou-se o urbano consolidado, áreas de habitação unifamiliar e plurifamiliar, grandes equipamentos, instalações militares e fortificações.

Quanto ao edificado consideraram-se duas variáveis. A primeira é, essencialmente, a área ocupada por todos os edifícios, considerado como um factor agravante na ocorrência do evento. Na segunda considerou-se a idade do edificado, onde se hierarquizou do mais recente para o mais antigo, pressupondo aqui, que nas áreas correspondentes ao edificado mais antigo, o potencial de destruição seria maior devido às fragilidades que as estruturas apresentam (ex. Baixa de Lisboa).

Considerou-se também uma variável em função das grandes infra-estruturas, como é o caso da Ponte 25 de Abril. Aqui, determinou-se uma área de influência de 1km para cada lado da ponte, subentendendo que esta seria a área afectada no caso da sua queda. O mesmo procedimento foi adoptado no caso do Aqueduto de Águas Livres. Depois de convertida a informação de vectorial para raster, procedeu-se à sua reclassificação e, posteriormente, somaram-se as duas variáveis, obtendo-se uma matriz apenas com as áreas denominadas afectadas, designando-se esta por factor queda.

Outros factores agravantes são as infra-estruturas subterrâneas, ao se criarem “vazios” que aumentam o risco de subsistência do solo. Isto tem impactos tanto a nível subterrâneo como à superfície. Para estes, seleccionou-se a rede de metropolitano de Lisboa, pelos seus túneis e estações de metro, definindo-se uma área de agravamento, obtida a partir do cálculo 20m para cada lado da linha correspondente à rede do metropolitano. Para as condutas calculou-se uma área menor de influência, devido às suas dimensões, com uma distância apenas de 2m para cada lado da conduta.

Além destes, considerou-se a rede de alta tensão e neste impôs-se uma condição, em que ao contar-se uma linha primária, esta deveria criar uma área de influência independente das anteriores e, quando intersectadas as duas áreas, esta deve adquirir novos valores, resultando uma hierarquia das áreas afectadas pela queda da uma linha, em função do seu tipo.

A partir dos pontos dos epicentros vectorizados do mapa em anexo 1, elaborado por BEZZEGHOUD, M. et. al. (2003), fez-se a interpolação dos valores da magnitude (IDW) resultando uma matriz raster com as áreas de magnitude mais elevada a reduzida.

Todas as variáveis foram convertidas em raster e reclassificadas entre 0 (ausência) e 1 (presença). Em seguida, procedeu-se ao somatório da informação de todas as variáveis, com excepção das matrizes dos valores interpolados dos epicentros, geologia, factor terreno/forma e falhas geológicas, obtendo-se uma matriz denominada por factores secundários. Posteriormente, procedeu-se à sobreposição de todas as matrizes resultantes anteriormente, às quais se atribuíram ponderações diferentes a cada uma, consoante a sua importância (anexo 2), resultando apenas uma matriz denominada por variáveis negativas.

FIG. 2. Obtenção da variável negativa



Modelo de variáveis positivas

As variáveis consideradas para este item são maioritariamente de socorro e prestação de serviços à população, tais como os bombeiros, hospitais (particulares e privados), centros de saúde, postos de enfermagem, Polícia de Segurança Pública (PSP) e Segurança privada.

Toda esta informação está em formato vectorial, representada por pontos, sendo necessário criar uma área de influência, em função da capacidade de resposta de cada entidade.

De todas as variáveis, a mais importante é, sem dúvida, os bombeiros, sendo os primeiros a actuar em caso de emergência numa eventual catástrofe. Neste sentido, procedeu-se de forma diferente na análise desta variável. Primeiro, criaram-se várias áreas de influência (multiple ring buffer) com perda de importância à medida que se afasta do ponto central. Esta seria uma análise redutora se não houvesse diferenciação entre as áreas de maior e menor perigo e, para haver esta diferenciação entre elas, utilizou-se a condição existe ou não existe da ferramenta If-then-else, em que ao verificar-se a existência de um determinado campo por nós estabelecido, deveria considerar apenas todos os quartéis fora da área de inundação e calcular novamente uma área de influência, que sobreposta à matriz resultante da conversão das áreas calculadas anteriormente, deve originar valores mais elevados para cada pixel da nova matriz.

Para os hospitais públicos também se definiram vários raios de acção, como no caso dos bombeiros, resultando um tema denominado por Hospital Raio de Acção, embora se tenha definido uma área de influência única, que somada com as áreas de influência das variáveis bombeiros, hospitais, centros de saúde, postos de enfermagem, PSP e Segurança privada, resultou um tema designado por factores positivos.

Também se considerou a matriz resultante da conversão do TIN (rede de triângulos irregulares), em que se consideraram apenas os valores mais elevados, visto que cada equipamento ou serviço pode ser afectado pelo terreno em si.

Na sobreposição de toda informação procedeu-se da mesma forma, como nas variáveis negativas, também com ponderações diferenciadas para cada tema (Anexo 3).


FIG. 3. Obtenção da variável positiva

Modelo final

Para o modelo final (anexo 4) tiveram-se em conta os resultados da variável positiva e variável negativa. A partir da subtracção da positiva pela negativa obtiveram-se as áreas mais seguras e inseguras do município de Lisboa.

FIG. 4. Obtenção do mapa final com as áreas mais e menos seguras


Modelo da definição de rotas de emergência a partir dos pontos considerados como mais inseguros


Em função dos resultados obtidos no ponto anterior, obtiveram-se as áreas consideradas como as menos seguras e, a partir destas, aferiram-se os pontos com os valores mais reduzidos de segurança. Assim, através da ferramenta network analyst do Arcgis foi possível calcular as rotas mais curtas entre estes pontos e o Hospital de Santa Maria.

FIG. 5. Modelo da definição das rotas de emergência


Modelo da definição da distância e tempo percorrido a partir do ponto mais seguro

O objectivo deste ponto foi definir o tempo percorrido por área, em torno do local considerado o mais seguro, ponderando que este local seria o ideal para a localização de equipamentos temporários (ex. hospital de campanha, …) e em função deste permitir orientar as equipas no terreno de uma forma mais eficaz (tempo/percurso).


Na definição de um ponto mais seguro, consideraram-se às áreas mais seguras, convertidas de raster para polígonos e através destes obtiveram-se os pontos das respectivas áreas. Através duma selecção considerou-se o ponto com o valor mais elevado e procedeu-se ao cálculo da distância/tempo percorrido pelas vias do município.

FIG. 6. Modelo da definição da área percorrido por tempo

Para o cálculo destas distâncias, considerou-se para todo o município uma velocidade média de 50 km/h, embora no caso de uma eventual emergência, esta relação distância/tempo se altere em função de vários factores (tipo de via, alteração do limite de velocidade, tráfego, …).

Resultados


Os resultados obtidos de cada operação foram várias vezes modificados em função dos objectivos do trabalho. Grande parte destas modificações prendem-se, principalmente, com as reclassificações dos temas e com as áreas de influência de cada entidade. Um exemplo destas operações está representado na fig. 7 onde se passou de 7 classes de geologia para apenas duas, considerando a classe 1 como a área a entrar na análise com as outras variáveis.

FIG. 7. Comparação entre mapa geológico por reclassificar e reclassificado

Relativamente aos resultados obtidos no final de todas as operações nos conjuntos das variáveis positivas e negativas, pode observar uma contradição, ao observar-se no mapa da fig. 8 que as áreas mais seguras correspondem às áreas centrais do município, enquanto no resultado das variáveis negativas corresponde às áreas periféricas, com maior relevância na área correspondente a Monsanto.

FIG. 8. Mapa com a representação do resultado das variáveis positivas

FIG. 9. Mapa com a representação do resultado das variáveis negativas

Depois de estruturado o modelo e ajustados todos os parâmetros, obteve-se como resultado um mapa final (fig. 10) com as áreas de segurança mais elevada e mais reduzida da cidade de Lisboa, no caso de ocorrer um evento sísmico.


As áreas com segurança mais elevada correspondem à área de Monsanto, explicando-se este resultado em função do peso mais elevado que se deu na reclassificação das variáveis negativas, onde esta área obteve valores reduzidos de como factor agravante. Também se pode explicar pelo tipo de substrato rochoso, correspondendo a uma área do Complexo Vulcânico de Lisboa, onde as ondas sísmicas de superfície têm menor amplitude e intensidade, por se tratar de rochas ígneas duras, o mesmo não acontece nas rochas sedimentares, aluviões, limo ou água.

Quanto às áreas consideradas com segurança mais reduzida, correspondem a áreas menos abrangidas por equipamentos de socorro ou auxílio, destacando-se aqui a área corresponde à frente ribeirinha de Belém e as áreas mais a norte do Parque das Nações. Toda a frente ribeirinha deste município apresenta segurança muito reduzida, pelo simples facto de se considerar que no caso de haver um tsunami, toda esta área seria afectada, sem capacidade de resposta para os meios inseridos nestes locais e pelo índice de destruição se agravar. O edificado mais antigo idade também contribui para estes valores elevados, correspondendo em grande parte a toda esta frente, mais agravado na Baixa lisboeta.

Os fundos de vale também correspondem a áreas inseguras, demarcadas como áreas aluviais, mas também por funcionarem como um “canal” estendendo para o interior a propagação de uma eventual subida das águas em caso de tsunami.

Quanto aos tons laranja mais a norte do município, representados na fig. 10, correspondem a áreas inseridas na classe de maior risco da geologia, agravadas pelo facto de estarem mais próximas de falhas activas e também por se inserirem num local mais afectado por sismos, conforme o resultado da interpolação da magnitude dos eventos já registados.

FIG. 10. Áreas do município de Lisboa com maior e menor segurança em caso de sismo
 
Quanto às rotas de emergência, o resultado traduz-se em três percursos, com início nos pontos mais críticos (Belém) para o Hospital de Santa Maria. A definição de percursos óptimos traduz-se na definição do trajecto mais curto entre dois pontos.
Observando o mapa da fig. 11, pode observar-se que o percurso A contorna praticamente toda a área do Monsanto, enquanto o B é apenas uma pequena extensão da rota anterior. Na rota C, o trajecto modifica-se completamente face ao anterior, embora o ponto de partida destas duas rotas seja muito próximo.

FIG. 11. Rotas de emergência dos pontos mais críticos para o hospital de Sta Maria

FIG. 12. Distância percorrida por tempo a partir do ponto mais seguro

Após o apuramento das áreas mais seguras, sendo Monsanto a que apresenta melhores resultados neste âmbito, efectuou-se a partir desta, uma estimativa do tempo percorrido em função da distância. Como se verifica na fig. 12, as isócronas foram divididas desde os 2 minutos, categoria que abrange a área de Monsanto e a sua envolvência, passando pelos 5 minutos, área relativamente próxima da anterior e à medida que nos afastamos o tempo percorrido aumenta. Toda a área central da cidade encontra-se a 10 minutos e o Parque das Nações é a área a partir da qual se demora mais tempo a chegar a Monsanto, onde em caso de desastre, estariam as unidades de socorro. Importa referir, que esta é uma análise que não tem em conta os obstáculos e sinais de trânsito, portanto em situação real, o tempo percorrido seria, muito provavelmente, extrapolado.

Bibliografia
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Anexos

Anexo 1. Mecanismos focais em Portugal Continental e margem atlântica sobre um fundo batimétrico, com intervalos de 250 m e 1000 m.


“As falhas tectónicas principais estão, igualmente, representadas: MSP = Montanha submarina do Porto; VN = Vale de Nazaré; VIT = Vale inferior do Tejo; VT = Vale do Tejo; VS = Vale do Sado; VV = Vale de São Vicente; MP = Marquis de Pombal; BG = Banco de Gorringe; FGq = Falha de Guadalquivir; FN = Falha de Nazaré; FM = Falha da Messejana; FMV = Falha de Moura-Vidigeuira; FL = Falha de Loulé; FCA = Falha Cadiz-Alicante. A1 (Lisboa e Vale do Tejo; Évora) e A2 (faixa algarvia e a zona fronteiriça inter-placas) são representados com mais pormenores na figura 2. A3 representa a margem oeste ibérica.”

Adaptado de BEZZEGHOUD, M. et. al. (2003)

Anexo 2. Tabela de ponderações das variáveis negativas.

Anexo 3. Tabela de ponderações das variáveis positivas.



Anexo 4. Modelo de obtenção das áreas mais seguras.

A aldeia encantada...

O relevo, património (biótico e abiótico), actividades, entres outros, são os pontos de interesse desta aldeia.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

DESLIZAMENTOS, uma catástrofe natural

Referência bibliográfica: Meneses, B.M. (2010). Deslizamentos, uma catástrofe natural. Relatório apresentado à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Os movimentos de vertente têm sido alvo de estudo, devido às consequências resultantes da sua ocorrência, destacando-se aqui as Ciências da Terra. Estando os deslizamentos inseridos neste conjunto, é um dos movimentos mais estudados, principalmente os de maior dimensão, considerados geralmente como uma catástrofe natural. O exemplo do deslizamento da Ilha de Leyte nas Filipinas em 2006 é um dos mais marcantes, ao retirar a vida a 1100 pessoas. Existem outros, como o de Rio de Janeiro em Abril de 2010 (240 vitimas mortais), Uganda em Março de 2010 (54 mortes), entre outros. Também são responsáveis por causar elevados prejuízos materiais, tanto nas infra-estruturas, como na agricultura, onde grande parte das culturas é destruída.


É necessário haver a tomada de consciência da importância do tema para o ordenamento do território e o investimento em sistemas de alerta, de forma a minimizar estas consequências. Neste sentido, a aposta no conhecimento científico também é importante, visto que o risco de deslizamento a nível mundial está atribuído a uma área considerável.
Fig. 1 – Risco de deslizamento a nível mundial. Adaptado de: http://earthobservatory.nasa.gov/IOTD/view.php?id=7783

Os deslizamentos


A ocupação de áreas susceptíveis de ocorrer um fenómeno potencialmente devastador, como os deslizamentos, tem constituído uma preocupação geral, na tentativa de minimizar prejuízos materiais e, sobretudo evitar a perda de vidas humanas. O interesse da identificação de áreas sensíveis assume elevada importância, face há ocupação desajustada do território que constitui um factor determinante na ocorrência e intensificação das catástrofes naturais (REIS, 2003).
Um deslizamento (slide) pode definir-se como “…um movimento de solo ou rocha que ocorre ao longo de um plano de ruptura ou de zonas relativamente estreitas, alvo de intensa deformação tangencial…” (ZÊZERE, 1997).

Este movimento ocorre ao longo de um plano de inclinação de uma vertente, quando existe um desequilíbrio na distribuição de forças ao longo de uma determinada superfície (Fig. 2), fazendo com que as forças actuantes (as que favorecem o deslizamento) sejam superiores as forças resistentes (MATOS, 2008).
Fig. 2 – Representação de forças exercidas num deslizamento. 1 – Tensão tangencial;    2 – Resistência ao corte (coesão, fricção).

FACTORES RESPONSÁVEIS pela redução da resistência ao corte são essencialmente a meteorização física e química das rochas, embebimento (saturação em água) e redução da pressão intergranular efectiva; enquanto os factores responsáveis pelo aumento da tensão tangencial estão ligados ao levantamento ou basculamento tectónico, remoção do suporte basal (natural, como por exemplo erosão marinha, fluvial, glaciária, ou artificial, devido à intervenção antrópica, por exemplo escavações), aumento da carga (natural, por infiltração de água, actividades vulcânicas, vegetação e artificial, tipo construções, aterros, e outros) e tensão transitória (natural, como por exemplo os sismos e artificial, exemplo as detonações de explosivos, tráfego rodoviário, entre outros.
Dependendo da ruptura tangencial ou geometria da superfície a que dão origem, os deslizamentos podem ser classificados em dois tipos: rotacionais ou translacionais. Para que ocorra um deslizamento são considerados os factores condicionantes e os desencadeantes. Nos primeiros, considera-se as características do terreno como factores de propensão à ocorrência do deslizamento, tendo em conta os factores preliminares que promovem a redução da estabilidade, sem desencadear o movimento, enquanto os factores que o desencadeiam são os processos físicos, geomorfológicos e antrópicos.
A litologia, morfologia das vertentes, cobertura vegetal, estrutura geológica, entre outros, são factores que determinam o grau de susceptibilidade do território à instabilidade e ainda a sua variação espacial. As causas que levam ao desencadear do movimento são principalmente a precipitação, os sismos, a variação do nível freático, a fusão da neve e gelo, erupções vulcânicas, entre outros.
Os movimentos de vertente, podem se caracterizados em função de um factor de segurança (F) das vertente:


Se o resultado de F for superior a 1, corresponde a uma vertente estável, se for igual ou inferior a 1, corresponde a uma vertente instável.
Em função do material afectado, considera-se os deslizamentos de rocha (rockslides), de detritos (debris slides) e lamacentos (mudslides), conforme os exemplos das Figuras 3, 4 e 5, respectivamente.


Fig. 3- Deslizamento de rocha.


Fig. 4- Deslizamento de detritos.


 
 
Fig. 5- Deslizamento lamacento.






Deslizamentos Rotacionais

Os deslizamentos rotacionais (slumps), ocorrem ao longo de superfícies de ruptura curvas, com um abatimento a montante e um levantamento a jusante, sucedendo, geralmente, em meios homogéneos e isotrópicos. Neste tipo de movimentos, as massas de solo ou rocha deslizam sob a superfície de ruptura, predispostas pela perda de resistência ao corte, com a secção transversal curva e côncava.
Quanto à ruptura, esta pode ser superficial ou profunda, desencadeando-se na primeira um deslizamento superficial associado geralmente a períodos curtos de precipitação muito elevada, enquanto os deslizamentos com plano de ruptura profundo estão associados a períodos de precipitação mais prolongados, podendo o deslizamento acontecer alguns dias após o período chuvoso.
Conforme representado na Figura 6, podem ser classificados como simples, quando a massa se move numa única unidade ao longo da superfície de deslizamento; múltiplo se verificar que o deslizamento tem várias unidades semelhantes ao anterior e sucessivos, quando há sucessivas rupturas ao longo de um plano lateral, geralmente de pequena profundidade. Ocorrem predominantemente em argilas fissuradas (MATOS, 2008).

Fig. 6 - Diferentes tipos de deslizamentos rotacionais. A – simples; B – múltiplo; C – sucessivo.

Na Figura 7 está representada a classificação e morfologia interna de um deslizamento rotacional, podendo observar-se como se desenvolve o movimento da massa e as formas originadas por esta. No sector frontal, forma-se um aclive, resultado do levantamento da massa por rotação, fazendo com que a instabilidade de prolongue no tempo pela retenção de água. Daí a importância de intervir rapidamente sobre estas áreas, principalmente na drenagem da água retida no solo e a acumulada nesta depressão, de forma a evitar o desencadeamento de um novo deslizamento.


Fig. 7 – Esquema de um deslizamento rotacional em perfil e em plano (adaptado de ZÊZERE, 1997).
1 – cabeceira; 2 – cabeça; 3 – corpo principal; 4 – pé; 5 – cicatriz principal; 6 – topo; 7 – plano de ruptura; 8 – aclive; 9 – superfície de separação; 10 – extremidade jusante; 11 – frente; 12 – limite jusante do plano de ruptura; 13 - comprimento total.

Dos vários exemplos de deslizamentos a nível mundial, seleccionou-se os deslizamentos a NE da localidade La Conchita na Califórnia. O primeiro ocorreu a 4 de Março de 1995 (Fig. 8), não se registando vítimas, devido à reduzida velocidade do movimento da massa (pouca plasticidade), permitindo evacuar as pessoas em segurança, do qual resultou apenas danos materiais. Segundo JIBSON (2005), este ano registou-se o dobro da precipitação em relação à média das chuvas sazonais (390mm), originando a saturação dos solos, o que levou ao desencadeamento deste deslizamento.


Fig. 8 – Deslizamento a NE da localidade La Conchita (10 de Janeiro de 1995).
Fonte:http://3dparks.wr.usgs.gov

Fig. 9 – Mapa topográfico com a representação dos deslizamentos a NE de La Conchita. A azul o de 1995 e a amarelo o de 2005. Fonte: JIBSON, 2005.


Em 1994, detectou-se as primeiras estrias (slickensides) a montante do deslizamento marcado a azul na Figura 9, que, segundo este autor, favoreceram o escoamento da água da precipitação para o subsolo, desencadeando vários deslizamentos de pequenas dimensões. Estas estrias contribuíram, pelo mesmo processo, para o desencadeamento do grande deslizamento de 1995.
A 10 de Janeiro de 2005 aconteceu novo deslizamento (Fig. 10) na massa anteriormente deslizada, mas desta vez teve consequências catastróficas. A elevada precipitação registada num período muito curto, aumentou a plasticidade da massa já instabilizada, desencadeando-se um deslizamento rápido, sem hipótese de fuga da população. Resultado, 10 mortes e 36 habitações destruídas.

Fig. 10 – Reactivação de antigo deslizamento a NE da localidade La Conchita na Califórnia (2005).

Pela elevada percentagem de água na massa instabilizada, composição do material (maioritariamente argila e silte, com algum cascalho e calhaus) e pela remoção do material na extremidade jusante do deslizamento de 1995, o material agora deslizado evoluiu para uma escoada de detritos no sector final, entrando pelas ruas da localidade. Este movimento foi muito rápido, estimado por JIBSON (2005) na ordem dos 10m/s, de acordo com os cálculos feitos a partir de uma gravação de vídeo in loco. Este é um bom exemplo de um local onde podem ocorrer diferentes tipos de movimentos com períodos distintos e com consequências bem diferentes, destacando-se a falta de monitorização e desordenamento do território, no que respeita à determinação de áreas de risco.

PORTUGAL, tem registo de alguns eventos deste tipo de deslizamentos. O caso de Alrota em 2001 foi um dos mais representativos, quando parte da estrada foi destruída (Fig. 11), tornando-a intransitável.

Fig. 11 – Deslizamento na Serra de Alrota (2001). Fonte: Comissão Social da Freguesia de Bucelas.

Foi um ano hidrológico muito chuvoso, registando-se na estação de Pragança (município de Loures), valores superiores face aos anteriores. No mês mais chuvoso (Dezembro) observou-se valores de precipitação na ordem dos 400 mm (Fig. 12).

Fig. 12 – Precipitação mensal e acumulada registada na estação de Pragança no ano hidrológico 2000/2001. Fonte: http://snirh.pt

Grande parte da população local foi afectada, pelo desvio obrigatório nas suas deslocações. Foi necessário intervir, através da construção de diques artificiais para drenar a área e gabiões, para que este episódio não se repetisse novamente. Os custos ascenderam aos milhares de euros. O caso da localidade do Casal da Portela, também em 2001, embora não seja um deslizamento com grandes dimensões de área afectada, destruiu uma habitação.

Fig. 13 – Deslizamento na localidade Casal da Portela (2001).
Fonte: Comissão Social da Freguesia de Bucelas.

O deslizamento que ocorreu junto à CREL (Circular Regional Exterior de Lisboa) em 2010 deu-se num terreno composto essencialmente por aterro e entulho. É uma área mal drenada e com material mal compactado, que se instabilizou num deslizamento rotacional, podendo observar-se na Figura 14, um abatimento a montante e levantamento a jusante, formas típicas destes movimentos. O corte desta estrada afectou de forma directa todos os utentes desta via e de forma indirecta, todos os que são perturbados pelo trânsito daqui desviado, além de outros custos associados indirectamente.

Fig. 14 – Deslizamento rotacional junto à CREL em 2010. Fonte: http://dn.sapo.pt/


Deslizamentos Translacionais

A) Com ruptura compósita

Os deslizamentos com ruptura compósita estão na transição entre os deslizamentos rotacionais e os translacionais mais típicos (planares). O plano de ruptura deste deslizamento apresenta duas secções: uma forma circular ou planar a montante com forte inclinação e outra a jusante com inclinação mais reduzida (ZÊZERE, 2000), conforme representado na Figura 15.

Fig. 15 – Esquema de um deslizamento translacional com ruptura compósito.

No deslizamento da Figura 16, pode observar-se as formas de um deslizamento translacional, com uma cicatriz principal bem definida e a extensão da massa deslizada ao longo do plano de ruptura.

Fig. 16 – Deslizamento translacional com ruptura compósito. Fonte: www.qub.ac.uk/geomaterials.html

Contudo, este tipo de deslizamentos pode ocorrer em locais distintos, com características geológicas e geomorfológicas muito diferentes, dando por vezes uma percepção errada do seu movimento e paralelamente uma classificação errónea. O esquema da Figura 17 evidencia esta constatação, ao observar-se que o deslizamento de massa causou um abatimento a montante, originando um fosso (graben), do qual resultou uma escarpa e um contraescarpado, com deslocação dos blocos para jusante.

Fig. 17 – Esquema de um deslizamento translacional com ruptura compósito.

B) Com ruptura planar

Ocorrem ao logo de superfícies de ruptura planares ou pouco onduladas, deslizando a massa para além do limite a jusante do plano de ruptura (VARNES, 1978), conforme o esquema da Figura 18.

Fig. 18 – Esquema de um deslizamento translacional com ruptura planar.

A intervenções nas vertentes, para a construção de estradas ou outro tipo de infraestrutura, tem originado alguns deslizamentos, como os representados na Figura 19, verificando-se no caso A um deslizamento translacional com ruptura planar em rocha perto de Porteau Cove (Canadá) em 2008, onde se pode observar que a descontinuidade estrutural é concordante com o declive, mas com um plano de estratificação inferior a este, onde os blocos deslizados ultrapassaram os limites do plano de ruptura, tornando a estrada que liga Vancouver a Whistler intransitável. No caso B, este deslizamento desencadeou-se devido a um terramoto com epicentro a 11 Km da cidade de Ojiya (Japão) em 2004, destruindo totalmente a estrada 421, causando vítimas mortais (automobilistas que ali circulavam).

Fig. 19 – Deslizamentos translacionais com ruptura planar.
A – Porteau Cove (Canadá) – 2008. Fonte: http://toronto.ctv.ca/
B – Estrada 421 junto ao Rio Shinano (Japão) – 2004. Fonte: http://www.geerassociation.org/

Geralmente estes deslizamentos de rocha estão associados ao contexto montanhoso, onde as vertentes têm declives bastante acentuados.


Risco

A definição de risco é expresso segundo VARNES, HANSEN e HARTLÉN (citados em ZÊZERE, 1997), como a “…possibilidade de ocorrência de consequências gravosa, económicas ou mesmo para a segurança das pessoas, em resultado do desencadeamento de um fenómeno natural ou induzido pela actividade antrópica…”. Este autor calcula o risco segundo a expressão:
R=V*P*E
R é o risco, obtido pela multiplicação de P (perigosidade) por V (vulnerabilidade) e E (valor dos elementos vulneráveis). Pela multiplicação da V e E obtém-se o dano potencial.

Pode calcular-se o risco específico para cada elemento em risco através da multiplicação de P por V. No risco total considera-se o número de mortos e feridos expectáveis e prejuízos materiais directos e indirectos devido à ocorrência de fenómeno natural, como um deslizamento (ZÊZERE, 1997). Assim interessa perceber qual o tipo de deslizamento que pode ocorrer e onde, compreendendo-se, também, até onde pode ocorrer e quando, entendendo-se estes dois últimos pontos como perigosidade (definida como a

Fig. 20 – Esquema conceptual de classificação de vulnerabilidade (adaptado de VASCONCELOS, 2002).

probabilidade de ocorrência de um determinado fenómeno potencialmente destruidor num período de tempo numa dada área), enquanto a vulnerabilidade (definida segundo VASCONCELOS (2002), como o grau de perda de um elemento em risco, em resultado de um fenómeno natural, com determinada magnitude) pode incluir questões do tipo como irá decorrer o deslizamento, quem irá ser afectado e o quê. Por último, considera-se os elementos vulneráveis num dado território (população, equipamentos, propriedades, actividades económicas, entre outros) e qual o seu valor, ou seja, quanto custa cada elemento (IUGS, 1997).
VASCONCELOS (2002) adoptou uma metodologia de classificação da vulnerabilidade, que reflecte a proporção de indivíduos e elementos patrimoniais potencialmente afectados por um deslizamento (Fig. 20).
Contudo, a complexidade na aceitação do risco é muito diferenciável de pessoa para pessoa, muitas das vezes considerado como não aceitável apenas, quando há perda de vidas humanas.


Ordenamento do Território e Protecção Civil

Quanto aos vários conceitos de risco definidos actualmente pela ciência, nem todos são produto com o mesmo tipo de interesse para o Ordenamento do Território (OT) e Protecção Civil (PC). O interesse da PC é sobretudo o resultado final da avaliação de susceptibilidade, que se traduzirá em cartografia de risco, embora este conceito de risco seja muitas vezes entendido como sinónimo de susceptibilidade e perigosidade. A susceptibilidade deve ser entendida como as áreas afectadas em caso de acontecer determinado evento, como por exemplo, um deslizamento, enquanto a perigosidade pode traduzir-se como o período de retorno para o acontecimento desse evento.
O objectivo do OT, através de medidas de planeamento, deve centrar-se também na prevenção do risco e evitar que determinado problema ocorra. Daqui nasce a importância da determinação de susceptibilidade de ocorrência de determinado evento numa certa área, para que os decisores, mediante estes resultados possam actuar coerentemente e que este conhecimento se traduza nos Instrumentos de Gestão Territorial (IGT), ou seja, não planear construção para áreas susceptíveis à ocorrência de deslizamentos, entendendo-se esta como uma medida politica preventiva, evitando-se perdas humanas e prejuízos materiais.
Por outro lado, surge a aceitação do risco, e a mitigação. Pode-se mitigar através da redução da perigosidade, dos valores em risco e da vulnerabilidade (medidas estruturais defensivas, sistemas de alerta, planos de emergência e socorro). O ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO PROCURA, SOBRETUDO, EVITAR O RISCO, através do zonamento da perigosidade (evacuação de áreas perigosas e procura de localizações alternativas, interdição à expansão ou limitação urbanística em zonas consideradas perigosas e definição de utilização de áreas apropriadas consoante a perigosidade que a caracteriza).

Referência aos Riscos na Legislação Portuguesa e nos Instrumentos de Gestão Territorial

O conjunto de documentos aprovados pelo Decreto-Lei n.º 380/99, define-se como Instrumentos de Gestão Territorial, onde se descrevem algumas das principais regras sobre o planeamento e ordenamento do território de Portugal. Os IGT devem estabelecer os comportamentos susceptíveis de imposição aos utilizadores do solo, tendo em conta os riscos para o interesse público relativo à protecção civil, designadamente nos domínios da construção de infra-estruturas, realização de medidas de ordenamento e da sujeição a programas de fiscalização.
Na legislação, nomeadamente dos objectivos da PC (Lei 27/2006) define-se, essencialmente, a prevenção de riscos colectivos e a ocorrência de acidente grave ou de catástrofe dela resultante, mencionando ainda que devem atenuar-se estes riscos e limitar os seus efeitos. No entanto, nas políticas e operações da PC, há uma omissão sobre questões de prevenção, da qual resultam planos de emergência (medidas reactivas), quando a prevenção pode ser vista como uma forma de evitar, em caso de haver um evento, danos materiais e exposição da população, ou seja, devem preocupar-se com a mitigação, mas também com a prevenção. Geralmente, nunca são retiradas consequências da realização das actividades preventivas no que respeita ao OT, facto que limita drasticamente o seu alcance. Na Lei de Bases da PC há, também, uma falta de clareza no que respeita à definição de conceitos.
O Artigo 26.º da Lei anteriormente mencionada, constitui a primeira medida de articulação entre PC e OT, visto que em Resolução de Conselho de Ministros ao ser declarada a situação de calamidade, há suspensão dos planos municipais e planos especiais de OT em vigor, devendo ser alterados tendo em conta os riscos para o interesse público relativo à PC. No entanto, é mais uma medida reactiva, uma vez que só é levada em conta, aquando da ocorrência de uma calamidade.
O risco obtém-se, como referido no ponto 3, pela multiplicação da perigosidade (se o fenómeno ocorre ou não, compreendido entre 0 e 1, respectivamente), vulnerabilidade (ex. qual o grau ou dano de uma infra-estrutura afectada em caso de haver um evento, também compreendido entre 0 e 1, ou seja, ausência de danos e perda total, respectivamente) e o valor económico (LEONE, 2007).
Na Reserva Ecológica Nacional (Decreto-Lei n.º 166/2008) faz-se referência aos riscos na política de protecção dos valores ecológicos, tendo esta como principais objectivos a prevenção e redução dos efeitos da degradação da recarga de aquíferos, riscos de inundação costeira, cheia, erosão hídrica dos solos e movimentos de massa em vertentes. Contudo, existem algumas excepções para a não inclusão de zonas de risco no âmbito da REN, como a restrição do mesmo tipo de utilização entre território de risco e territórios classificados como reserva ecológica, ou quando um território é classificado como perigoso, não devendo ser classificado como tendo um elevado valor ecológico e, há ainda a redutora inclusão nesta Reserva, de todo o tipo de riscos, que se verificam no território.
Nos IGT, parte-se das orientações mencionadas no PNPOT , onde são indicados os grandes problemas que o território apresenta, tais como degradação do solo, qualidade da água e riscos de desertificação, movimentos de massa, entre outros, mencionando ainda objectivos estratégicos e específicos no ordenamento do território. Segundo JULIÃO (2009), “…foi o primeiro instrumento de gestão territorial moderno que expressamente considerou os riscos e as vulnerabilidades territoriais na definição do modelo territorial…”). No entanto, estes planos nacionais e planos regionais (PROT), não vinculam directamente os privados (vinculados apenas por planos municipais), somente as entidades públicas, surgindo daqui a preocupação de se mencionar no PNPOT orientações para outros IGT de ordem inferior, na incorporação dos riscos naturais, ambientais e tecnológicos, como é exemplo, a delimitação de áreas susceptíveis à ocorrência de deslizamentos em sede de PMOT, entre outras.


Elaboração de Cartografia

Os riscos de movimentação de materiais em vertentes, e particularmente os movimentos em massa, são de cartografia mais delicada dada a complexa interacção dos factores que os favorecem, condicionam ou desencadeiam”. CUNHA, 2001 (p.8).

Segundo BATEIRA (2003) “a produção de cartografia dos riscos naturais relativos a movimentos de vertente depende, em larga medida, do conhecimento dos factores permanentes…”. A elaboração de cartografia de riscos naturais, principalmente a de susceptibilidade de ocorrência de deslizamentos, tem um papel fundamental no ordenamento do território.
A avaliação de perigosidade geomorfológica associada aos movimentos de vertente predictos numa área, segundo HARTELÉN (1988), citado por ZÊZERE (1997), deveria reflectir no que seria o “mapa ideal”, a probabilidade espacial e temporal, o tipo, a magnitude, a velocidade, a deslocação horizontal e limite de retrogressão.
ZÊZERE (1997) considera três fases fundamentais na avaliação de perigosidade. A primeira passa pela inventariação e análise das manifestações de instabilidade já verificadas numa determinada área; já a segunda passa por identificar os factores condicionantes e desencadeantes responsáveis pelo aparecimento ou aceleração dos movimentos e por último, a interpretação dos factores com base no conhecimento científico e implementação de modelos que considerem os mecanismos detectados e as regras da experiência acumulada. Este autor estabelece dois tipos de determinação de perigo nos movimentos de vertente, divididos em avaliação relativa e absoluta (Fig. 21). Nos primeiros, considera-se a cartografia directa (método geomorfológico), caracterizado por uma avaliação qualitativa de perigo, assente no conhecimento do geomorfólogo que faz o levantamento de campo e determina os factores de instabilidade, enquanto na cartografia indirecta, se baseia nas causas de instabilidade, permitindo identificar parâmetros que controlam o movimento, possibilitando a construção de modelos e simulações de movimentos de vertente, resultando as localizações de maior perigo.

Fig. 21 – Metodologias de avaliação da perigosidade geomorfológica (adaptado de ZÊZERE, 1997)

Na análise estatística recorre-se a métodos bivariados, onde é sempre necessário o levantamento dos deslizamentos no campo (inventariação dos movimentos), calculando-se, posteriormente, a relação condicionante entre as diversas variáveis com o deslizamento, resultando no final um mapa (Fig 22) com valores reclassificados (tabulados, ou seja, a percentagem de cada classe que se insere dentro da área do deslizamento). Nos métodos multivariados, estabelece-se o peso que cada variável tem na regressão logística.

Fig. 22 – Modelo de classificação estatística de perigo de movimentos de vertente (método bivariado).

Nos métodos absolutos, inclui-se os estudos geotécnicos (estudos de pormenor), com resultados extrapoláveis a áreas mais extensas, os modelos determinísticos, assentes nas leis físicas e mecânicas, também extrapoláveis e, por último, os modelos probabilísticos, onde o risco é considerado como uma variável aleatória, regida por funções de probabilidade (ZÊZERE, 1997).
Relativamente à legenda, deve ser muito simplificada. Geralmente, a divisão de classes é muito discutível, porque ao dividir-se por exemplo em três (baixo, médio e elevado), questiona-se se a classe intermédia é necessária ou não. As áreas que apresentam um risco de ocorrência de deslizamento muito elevada, associada à falta de recursos (económicos, humanos, …) devem ser alvo de maior preocupação e intervenção, não se justificando, neste sentido, a existência da classe intermédia.

Considerações finais

OS DESLIZAMENTOS SÃO CONSIDERADOS UMA CATÁSTROFE se ocorrer danos materiais, ou causar vítimas. Geralmente, os deslizamentos noticiados são os que causaram elevados prejuízos materiais ou mortes. No entanto, ocorrem vários deslizamentos de pequenas dimensões, que nunca serão conhecidos, mas são um testemunho da dinâmica de vertentes.
A definição de áreas de perigo devido à ocorrência de deslizamentos deve ser feita sempre que haja ameaça potencial das populações e do seu bem-estar, enquanto a classificação de áreas de risco, deve ser feita sempre que haja a probabilidade de ocorrência de deslizamento, ou esteja exposto ao mesmo.
A cartografia dos riscos assume elevada importância no ordenamento do território, por um lado, na restrição ou condicionamento de construção e, por outro, na definição de áreas críticas com risco mais elevado, auxiliando as decisões no planeamento do território e as entidades responsáveis pela prevenção e reacção a acidentes graves e catástrofes naturais, como um deslizamento. É NECESSÁRIO CONSCIENCIALIZAR AS POPULAÇÕES E OS DECISORES, QUE ESTES EVENTOS TÊM CONSEQUÊNCIAS MUITO GRAVES.

Fig. 23 – Habitantes a abandonarem a localidade da Portela (Arcos de Valdevez), depois do movimento de massa, que ocorreu no ano 2000 e destruiu grande parte das habitações.

Fig. 24 – Vítimas de um deslizamento no Rio de Janeiro, ocorrido em Abril de 2010.
Fonte: http://www.jornal.us/


Referências Bibliográficas

BATEIRA, C. et al (2003) – Os problemas da cartografia dos riscos naturais. Contributos para a definição da susceptibilidade geomorfológica a partir da observação de vários movimentos de vertente ocorridos a Norte de Portugal. Territorium, pp. 10-19.

Comissão Social da Freguesia de Bucelas (2007) - Deslizamento de terras e desflorestação em Bucelas. Rede Social no Concelho de Loures.

CUNHA, L. et al (2001) - Considerações sobre riscos naturais num espaço de transição. Exercícios de cartografia numa área a Sul de Coimbra, pp. 2-20.

FERREIRA, A. et al (2005) Movimentos de vertente. In Geografia de Portugal, Cap. 6, pp.198-208.

GASPAR, J. (2005) - O Novo Ordenamento do Território - Geografia e Valores. Centro de Estudos Geográficos, Universidade de Lisboa.

HARTELÉN, J. et al (1988) – General report: Evaluation of landslides hazard. In Bonard, C. (Ed.), Landslides , Proceeding of the Fifth International Symposium on Landslides Lausanne, Vol. 2, Balkema, Rotterdam, pp. 1037-1042.

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JULIÃO, R. et al (2009) – Guia Metodologico para a Produção de Cartografia Municipal de Risco e para a Criação de Sistemas de Informação Geográfica (SIG) de Base Municipal. Autoridade Nacional de Protecção Civil, pp. 13-37.

LEONE, Frédéric (2007) - Caractérisation des vulnérabilités aux catastrophes « naturelles » : contribution à une évaluation géographique multirisque. Habilitation a Diriger des Recherches. Université Paul Valery – Montpellier III.

MATOS, Lina Manuela (2008) – Estabilidade de Taludes em Rochas Silto-argilosas. Técnicas de Remediação para Roturas Superficiais. Dissertação de mestrado apresentado à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Lisboa.

REIS, Eusébio et al (2003) – Integração de Dados Espaciais em SIG para Avaliação da Susceptibilidade à Ocorrência de Deslizamentos. Revista Finisterra, Vol. XXXVIII, N.º 76, pp. 3-34.

VARNES, D. J. (1978) – Slope Movement Types and Process. In SCHUSTER, R. L. et al, Landslides, Analysis and Control. Transportation Research Board Special Report, 176, Washington.

VASCONCELOS, J. et al (2002) - Avaliação da vulnerabilidade aos deslizamentos no Distrito de Santarém. Associação Portuguesa de Geomorfólogos, Vol. 1, APGeom, Lisboa, pp. 59-66.

ZÊZERE, José Luís (1997) – Movimentos de Vertente e Perigosidade Geomorfológica na Região a Norte de Lisboa. Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Lisboa.

ZÊZERE, José Luís (2000) – A Classificação dos Movimentos de Vertente Tipologia, Actividade e Morfologia. Apontamentos de Geografia – Série de Investigação: N.º6. Centro de Estudos Geográficos, Lisboa.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O Geopatrimónio como Recurso para o Desenvolvimento Sustentado de uma Região


Existem diversas visões sobre o território, variando muito de pessoa para pessoa. Consoante a formação de quem avalia determinado elemento, a sua opinião será sempre de acordo com os seus ensinamentos e convicções. Assim, a visão de um geólogo e de um geomorfólogo, são diferentes. Cada um tem um ponto de vista distinto sobre o mesmo elemento em causa, o que por vezes leva à separação de conhecimentos e à divergência de conceitos. É fundamental haver a conciliação de conhecimentos, quando está em causa a conservação dos valores geológicos e geomorfológicos, como refere CASTALDINI (2009).
Por Património entende-se todos os lugares com valor universal excepcional para a humanidade. Assim, o Geopatrimónio definido por RODRIGUES (2008), “…como o conjunto de valores que representam a Geodiversidade do território”, engloba o património geomorfológico, geológico, hidrológico, pedológico, entre outros. Segundo este autor, este conceito surge do termo equivalente em inglês “Geoheritage”, englobando as Paisagens e os Geossítios e quando conjugado com o Património Cultural (material e imaterial), proporciona o desenvolvimento de uma actividade, designada por Geoturismo. “O Geopatrimónio será, por sua vez, constituído por todo o conjunto de elementos naturais abióticos existentes à superfície da Terra (emersos ou submersos) que devem ser preservados devido ao seu valor patrimonial “ (RODRIGUES, 2008).
O património geomorfológico corresponde às formas de relevo e depósitos correlativos dos mesmos e aos processos que testemunham a evolução herdada e actual das paisagens. As formas de relevo com atributos particulares são classificadas como geomorfossítio e fazem parte do património cultural de um determinado território CORATZA (2005). Um geomorfossítio com determinados atributos tem valor cultural, científico, socioeconómico e cénico.
A identificação dos elementos naturais e geomorfológicos com determinada singularidade e especificidade de uma paisagem numa determinada região, deve inserirse num conjunto global onde se dê primazia à sua valorização, divulgação e, acima de tudo, à sua preservação.
Como refere PANIZZA (2009), na “Geomorphodiversity”, há uma grande complexidade e dificuldade na definição e entendimento de conceitos que envolvam a geodiversidade “extrínseca e intrínseca”. O primeiro termo é descrito por este autor, como as diferenças geológicas de um sítio quando comparado com outro, enquanto o segundo é entendido pela complexidade geológica de um determinado local. BRILHA (2005), também reconhece a elevada subjectividade existente em torno do valor intrínseco, pelo simples facto de ser difícil quantificá-lo. Quando se fala de Geodiversidade, muitas são as controvérsias em torno deste conceito, definido por SHARPES (1995) em COUTO (2005), como a integração de diferentes sistemas geológicos (substrato rochoso, solos, paisagem, entre outros), interligados com os processos geológicos. Para STANLEY (2001), este conceito é mais abrangente ao considerar a interligação do homem com o meio físico e a cultura, havendo interacção entre eles através da paisagem, solos, biodiversidade, entre outros. Porém, a definição mais abrangente de PANIZZA (2007) em RODRIGUES (2008), parece a ser a mais adequada ao englobar uma variedade de ambientes geológicos e geomofológicos, considerados como a base para a diversidade biológica da Terra. PIACENTE (2005) menciona a crescente atenção que se vem dando a este conceito, tanto na literatura internacional, como na elaboração de legislação.
Quando se faz um estudo de Geodiversidade de um determinado conjunto de elementos numa determinada área, tem de se ter em conta a diversidade, a frequência e a distribuição dos mesmos e, pelo estabelecimento de índices e indicadores, permite a comparação com áreas diferentes. À variedade ou abundância destes elementos numa área, como por exemplo uma região, dá-se o nome de geodiversidade intrínseca.

Compreende-se assim, que a Diversidade Natural da Terra engloba a Biodiversidade e a Geodiversidade.
CASTRO (2010) defende vários critérios na valorização de Geopatrimónio, dividindo este em várias categorias. A primeira correspondente ao valor intrínseco considerando os mesmos elementos referidos anteriormente, a idade, a associação aos elementos culturais, grau de conhecimento, associação com outros elementos do meio natural e o estado de conservação. Na segunda menciona as potencialidades de uso, tais como a possibilidade da realização de actividades, condições de observação, acessibilidade e a quantidade de população no seu redor. Por último, refere a necessidade de conservação, mencionando as ameaças e potencialidades, a regulamentação (legislação), as fragilidades, entre outros. CENDRERO (1996) também refere estes aspectos de valorização de Geopatrimónio nas suas monografias.
No Geopatrimónio devem tomar-se medidas ou adoptar-se práticas políticas que defendam a conservação dos elementos classificados, pois o Homem só conserva algo, quando o objecto em causa tem algum valor. Este valor pode ser intrínseco, estético, cultural, científico ou educativo. RODRIGUES (2008), refere que para a conservação de valores geológicos e geomorfológicos, traduzidos por Geoconservação, é necessário educar e esclarecer a população do valor que estes sítios encerram e, além destes, “…desenvolver planos ou estratégias de ordenamento que contribuam não só para a sua conservação mas também para a sua promoção”. Porém, há uma estreita relação entre o conhecimento científico e a Geoconservação, permitindo a abertura de novas fronteiras a qualquer um de nós ao interagirmos com o geomonumento e, através desta, nasce um novo conceito de cultura e lazer (COUTO, 2005). Tanto no inventário, como na monitorização destes geossitios e geomorfossitios, é necessário haver uma descrição das suas características para um planeamento correcto de actividades. Assim, é necessário a sua inventariação e a integração destes dados nos sistemas de informação geográfica (bases de dados) e, através das potencialidades que esta ferramenta proporciona, divulgá-los através dos novos meios de comunicação como a internet (webgis). No entanto, GRAY (2002) menciona que quanto mais divulgado um elemento, mais procura terá, logo a pressão exercida sobre estas áreas será mais elevada, o que requer medidas adicionais, na manutenção e equilíbrio, não pondo em causa o elemento classificado e, só assim, haverá sustentabilidade. CARCAVILLA (2009) sublinha a importância da preservação destes locais e a necessidade de medidas mais eficazes ao nível da legislação.
Os dividendos resultantes do turismo representam uma elevada percentagem de certas economias regionais, sendo em algumas delas, o único meio de desenvolvimento. Neste contexto, o levantamento/classificação de Geopatrimónio numa dada área é essencial, tanto para a sua preservação, como na divulgação de novos elementos classificados, possibilitando o desenvolvimento de actividades ligadas ao turismo, entre outras. Tudo funciona em conjunto, ou seja, a valorização de áreas com algumas potencialidades até aqui desconhecidas, adquirem interesse, o que por sua vez, proporciona o desenvolvimento de actividades locais e ganhos económicos para a população local (emprego), mas quando aliada a outros factores, como a cultura, a gastronomia, ou determinados tipos de desporto, entre outros, permite diferenciar regiões, pelas suas características particulares, conferindo-lhes uma identidade única. O crescente interesse por estas temáticas está a criar uma maturação do Geoturismo, tanto para as instituições como para os cidadãos (CASTALDINI, 2009). Este autor refere, também, que estas actividades são uma oportunidade de emprego para os especialistas em geologia, geomorfologia e outras áreas das Ciências da Terra.
A geoconservação ao nível europeu, já para não falar a nível mundial, tem sido alvo de várias promoções e HOSE (2005), considera que iniciativas deste género são um complemento fundamental para o desenvolvimento do Geoturismo, requerendo estratégias que funcionem em unidade. A efectivação dos valores naturais patrimoniais só se efectivará quando for integrado de forma consciente e planificada nas estratégias do ordenamento do território (RODRIGUES, 2008). É também necessário adoptarem-se usos/práticas compatíveis com o Geopatrimónio, não pondo em causa a sua destruição.
Em suma, o Geopatrimónio, depois de classificado, avaliado e integrado no conjunto patrimonial de uma região, constitui sem dúvida uma mais valia para o seu desenvolvimento sustentável, ao proporcionar o desenvolvimento do Geoturismo, com a integração de outros recursos regionais ou locais, para além da integração com o património cultural (material e imaterial). Neste contexto, sublinha-se a importância do conhecimento científico, na determinação dos elementos naturais que devem integrar o Geopatrimónio.

Referências Bibliográficas

BRILHA, J. (2005) Geodiversidade. In Património Geológico e Geoconservação – A Conservação da Natureza na sua Vertente Geológica, Palimage, p.17-126.

CARCAVILLA, L. (2009) - Geological Heritage and Geoconservation in Spain: Past, Present, and Future. In Geoheritage, N. º 1, p. 75-91.

CASTALDINI, D. et al (2009) - Geodiversity and Geotourism as a Challenge Between Scientific Culture of Geological Landscape and New Opportunity Ofworks. In The role of geomorphology in land management, III National AIGeo Conference, Modena & Alta Val Badia, p. 58.

CASTRO, C. et al (2010) - Peligros naturales en geositios de interés patrimonial en la costa sur de Atacama. In Revista de Geografía Norte Grande, N. º 45, p. 21-39.

CENDRERO, A. (1996) - El patrimonio geológico: bases para su valoración, protección, conservación y utilización. In Transporte y Medio Ambiente (MOPT) Madrid: Ministerio de Obras Públicas, Serie Monografías.

CORATZA, P. (2005) – Methodological Proposal for the Assessment of the scientific quality of geomorphosites. In II Quaternario, Italian Journal of Quaternary Sciences, Nº 18 (1), p. 307-313.

COUTO, H.; LOURENÇO, A. (2005) – Geoconservação e Desenvolvimento Sustentável. In Cultura Light, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto, p. 10-14.

GIANOLLA, P.; PANIZZA, M. (2009) –Le Dolomiti dichiarate dall’UNESCO patrimonio mondiale dell’Umanità. In Geoitalia, Nº28, p.56-63.

GRAY, M. et al (2002) - Geodiversity and Geoheritage as features of Soil Protection. In European Union Soil Thematic Strategy, Committee on the Environment, p. 1-11.

HOSE, T. (2005) - Landscapes of Meaning: Geotourism and the Sustainable Exploitation of the European Geoheritage. Institute of Geography, University of Lausanne.

PANIZZA, M. (2009) – Geomorphodiversity of the Dolomites and some remarks on recenté rock falls. A Key of Geoheritage Assessment. Geoheritage, p. 343-345.6

PIACENTE, S. (2005) – Geosites and Geodiversity for a Cultural Approach to Geology. In II Quaternario, Italian Journal of Quaternary Sciences, Nº 18 (1), p. 11-14.

RODRIGUES, M.; FONSECA, A. (2008) – A Valorização do Geopatrimónio no Desenvolvimento Sustentável de Áreas Rurais. Colóquio Ibérico de Estudos Rurais, Coimbra.

STANLEY, M. (2001) – Geodiversity Strategy. In ProGEO News, Nº1.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Junta de Freguesia de Gouviães

Caves da Murganheira

Capela de Eira Queimada


Cruz de granito (antigo caminho do Sr. da Salvação)
 

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Bela paisagem

O Rio Varosa....